Mensalão não provado

Até aqui, os escândalos que envolvem o governo Lula e seu partido, o PT, são marcados por dois nomes feios: mensalão e caixa 2. A palavra mensalão, criada pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), caiu no gosto do povo e dos críticos da atual administração. Indica uma grossa bandalheira que se repetia a cada mês. Uma mesada que o governo ou seu partido pagava aos parlamentares pela adesão ao governo. Era um instrumento de compra de apoio, repetido a cada trinta dias, garantindo bem remunerados novos membros das chamadas bases governistas. Se eventual, um ?dá aqui, toma lá? pontual que se pautava pela falta de caráter de quem o pagava e de quem o recebia. Uma eventual corrupção ativa e passiva.

Mais grave, pelo menos para o erário público, para a tesouraria do PT e para o povo brasileiro, que em última instância, direta ou indiretamente, patrocinava essa grossa negociata, era certamente o mais caro. Aquele que sangrava mais o erário, não se sabe qual deles, pois as importâncias precisas permanecem em segredo.

Acontece que, denunciado pelo deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB e da turma de Lula, por ter sido flagrado envolvido em sujos negócios de propinas para si e seu partido, o mensalão ganhou popularidade, investigações e se transformou no termo mais pronunciado para indicar os escândalos da turma do poder e seus aliados. O caixa 2 de financiamento das campanhas petistas e de seus aliados envolveu mais dinheiro, desafio frontal à legislação eleitoral. Enfim, um escândalo de muitos milhões e já se fala em ligações com bancos estrangeiros, em paraísos fiscais, o que internacionaliza a maracutaia.

Mas os mensalões não foram até aqui provados. Não se duvida que tenham acontecido, pois Roberto Jefferson é malandro, mas não é burro e certamente sabe o que acontecia ao seu redor. E também deveria ser freguês. Conhece as relações incestuosas entre a turma do Executivo e a do Legislativo. Também evidencia a ocorrência dos ?mensalões? a freqüência com que deputados mandavam seus assessores ir ao Banco Rural sacar importâncias em dinheiro. E a confissão de que essas importâncias eram entregues por pessoas que seriam designadas por Delúbio Soares, tesoureiro do PT. Mas Delúbio guarda a sete chaves o segredo de quem recebia tais importâncias, ficando assim não provada a prática do mensalão e a suspeita de que era pau mandado de alguém poderoso e até agora incógnito. Só se sabe quem pagava. Não são conhecidos os mandantes e fregueses da negociata e sua freqüência.

Resta, por enquanto, o caixa 2 do PT e ainda colaborações de empresas interessadas em contratos com o governo ou suas estatais. E aí o dinheiro é grosso. Compravam partidos e não apenas partidários. Eram caros acordos de apoio de legendas e bancadas. Enfim, uma negociata bem mais grossa, mas que não tem um nome tão popular quanto mensalão, que permanece não provado.

Por tudo o que até agora foi revelado e investigado, e não foi pouco, é de se acreditar que em matéria de negociatas entre PT-governo e parlamentares aproveitadores é de se apostar que existiram tanto mensalões quanto a compra de apoios via caixa 2, os ?caixões?. E que houve crimes eleitorais. Por tudo isso, os mensalões não estão provados.

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