Média quatro

Deveria preocupar mais ao Brasil e aos brasileiros a estatística recentemente divulgada por uma organização não-governamental chamada Transparência Internacional que os especuladores de Nova York, especialistas em medir diariamente o risco-Brasil. A ONG acaba de provar por “a” mais “b” que existe uma forte ligação entre pobreza e corrupção. Quanto mais pobre a nação, mais corrupta ela é. E o Brasil, também considerado uma nação pobre, tem um péssimo conceito, aparecendo ao lado do Peru num nada honroso 45.º lugar dentre 102 países pesquisados. Botsuana, na África, é uma exceção no meio da pobreza global: está em 24.º lugar, ao lado da Irlanda e da França.

Nossa média é nada lisonjeira entre os pobres emergentes, paraíso da corrupção no planeta azul: quatro, numa escala de zero (o mais corrupto) a dez (o menos corrupto). A lista da ONG está no Índice 2002 de Percepção da Corrupção em todo o mundo, elaborada a partir de conceitos da comunidade internacional de negócios sobre o tema. Publicado desde 1995, o índice combina informações de quinze diferentes estudos sobre corrupção conduzidos por outras organizações, incluindo o Banco Mundial. Vai daí que quando o secretário do Tesouro norte-americano, Paul O?Neill, andou dizendo que parte dos empréstimos internacionais concedidos a países como o Brasil e a Argentina iam parar em contas secretas da Suíça, ele apenas externou conceitos consagrados na pesquisa. Curioso é notar que, apesar dos grandes rombos contábeis descobertos em megaempresas norte-americanas, o conceito dos Estados Unidos em matéria de corrupção permaneceu estável.

É claro ? dizem os analistas de plantão ? não podemos nos comparar ao que ocorre na Argentina. Mas ela aparecia não muito distante do Brasil, em 50.º lugar. Só agora, com a crise sem precedentes que afeta sua economia, despencou para a 70.º posição. Ganha de todos os sul-americanos o Chile, que, entre os Estados Unidos e a Alemanha, ocupa um 17.º honroso lugar, seguido do Uruguai, com 5,1 pontos (32.º lugar). Aqui ao nosso lado, o pobre Paraguai, nosso sócio na Itaipu Binacional, figura quase no fim da fila, em 98º lugar, ao lado de Angola e Madagascar, com apenas 1,7 ponto.

A mesma ONG que divulga a pesquisa dá a fórmula para o combate à corrupção que se alimenta da pobreza e da miséria dos povos sobre o planeta: promover uma “limpeza” do sistema judiciário seria o caminho. “Vamos parar de falar muito, diz o presidente da TI, Peter Eigten, e aplicar o dinheiro de maneira útil, particularmente na área de cumprimento das leis.” Ele aconselha um programa de ajuda aos governantes de países pobres para o treinamento de juízes e promotores e para a criação de bancos de dados eletrônicos compartilhados e arquivos judiciais. “Se você não tiver um Judiciário honesto e independente ? ensina ele ? você não terá um programa anticorrupção.”

Esperemos que na próxima pesquisa o Brasil figure em melhor lugar. Afinal, estamos no caminho certo: a limpeza no Judiciário tupiniquim começou faz tempo com a prisão do nosso mais notório corrupto, o juiz Nicolau, coincidentemente um ex-presidente de Tribunal Regional superfaturado. Agora só falta criar os tais bancos eletrônicos compartilhados. Nossos juízes e promotores já estão treinados.

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