Mecanismos da corrupção

Existem milhares de mecanismos da corrupção e todos os dias podem ser criados novos. A imaginação para o mal e o atrativo da cobiça não têm limites. Por isso, ela existe aqui e acolá, mais em alguns países e menos em outros.

Uma organização não governamental de atuação mundial, a Transparência Internacional, pesquisa o assunto e até monta um “ranking” dos países mais ou menos corruptos, dando-lhes notas de 0 a 10. Quanto menor a nota, mais corrupção foi encontrada.

Para repetir um chavão que é freqüente, em se tratando de criminalidade, sempre tentamos mostrar que ela existe em qualquer lugar do mundo. E o Rio de Janeiro, por exemplo, continua sendo a Cidade Maravilhosa, mesmo que entre tapas e beijos, entre balas perdidas e recordes de assassinatos, agora com ataques abertos dos bandidos à própria polícia. E a polícia mais assassina do mundo.

Podemos utilizar chavão semelhante ou desculpa tão esfarrapada em relação à corrupção. Nenhum país está indene a esse mal que corrói a moral de seus povos e os recursos que deveriam ser destinados ao bem público. Mas a verdade revelada pela Transparência Internacional é que o Brasil, que no ano passado havia conseguido a duras penas a nota reprovatória de 3,9, neste ano a repetiu. Dois anos consecutivos, se bem que esteve na lista dos corruptos por quase todos os anos anteriores. O Brasil aparece em 59.º lugar entre os países pesquisados. Com a mesma nota reprovatória, estivemos em 53.º no ano passado.

A Finlândia, a Nova Zelândia, a Dinamarca, a Islândia e Cingapura são os primeiros colocados, ou seja, os países com menores índices de corrupção, entre 9,3 e 9,7. Na América Latina, o menos corrupto é o Chile, 20.º lugar na lista. Neste ano foram incluídos na lista 146 países. Segundo o diretor regional da Transparência Internacional, Silke Pfeiffer, o nível igual a 3 ou menor indica “corrupção endêmica, em que o sistema já não dispõe mais de mecanismos para lidar com a corrupção”. Estamos perto, mas ainda existem esperanças de que possamos lidar com essa praga.

Há remédio para esse mal? Em nota, batemos na trave. Estatisticamente, ainda existem esperanças. Um dos remédios eficientes está no próprio nome da organização que faz o “ranking” dos países mais ou menos corruptos: transparência.

A publicidade dos atos de governo permite sua fiscalização, seja pelo povo, pela imprensa, por organismos de auditação e, principalmente, pelo Ministério Público, que setores do governo e muitos políticos de outras agremiações querem ver manietado, sem poderes para investigar crimes, sejam públicos ou privados. Isso quando se aconselha que esteja acima da polícia e trabalhando junto com ela.

Existe também algo que se chama burocracia, entre nós um nome feio, pois traduz um emaranhado de regras, normas e papelada da mais variada hierarquia, para atrapalhar a vida dos cidadãos, empresas e do governo. Mas pode existir uma burocracia enxuta, competente e inescapável, que sirva de trilhos para que o uso do dinheiro público não descarrile. Essa burocracia vigilante, que funcione como indispensáveis amarras, pode e deve ser montada. Por enquanto, vivemos na base de vire-se quem puder, com poucas regras sérias e inúmeros caminhos para os descaminhos. Logo, nossa corrupção será endêmica.

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