Maturidade política

Foi o próprio presidente Fernando Henrique quem definiu o encontro que convocou e realizou com os principais candidatos à Presidência da República, na última segunda-feira, como uma “prova de maturidade política”. Todos eles foram cordatos, civilizados e ouviram o que já estava dito: não há cartas escondidas na manga, o acordo com o Fundo Monetário Internacional é bom e necessário e é preciso que todos pensem em ajudar o Brasil. Palmas. O ritual do encontro foi cumprido à risca e, ao final, o presidente disse ter ficado contente com o alto nível do acontecimento. Ah, a reação dos candidatos foi de compreensão e os candidatos se comprometeram, pero no mucho, a respeitar os contratos que o governo realizou em nome da nação. Palmas outra vez.

Na verdade, essa é a visão do presidente, que procurou ser gentil ao máximo com todos. Cada candidato saiu dizendo o que bem quis ou repetindo o que dizia antes, nos palanques. Lula, por exemplo, o único a ter uma conversa apartada com FHC, aproveitou microfones e holofotes para reafirmar que, ganhando, assume e, ato seguinte, já começa a mudar a política econômica (FHC afirmou que se candidato fosse também falaria sobre mudanças). Só não disse o que vai mudar. Se, também conforme prometeu, cumprirá acordos, pactos e compromissos, incluindo o aperto do cinto para alcançar as metas estabelecidas do superávit primário, em que consistirão as mudanças?

O candidato Serra repetiu o que já vinha dizendo: que o acordo não cria sacrifício novo, não complica ninguém mais do que já está e é vantajoso porque, acima de tudo, aumenta o clima de segurança econômica do Brasil. Não disse, mas é de se supor, que saiba que aumenta também a dívida a pagar. A novidade foi ter ele, com palavras e gestos, oficializado sua identidade com o governo. Até aqui ele tinha ficado em cima do muro, tentando agradar o eleitor com críticas óbvias enquanto irritava o Planalto com sua indecisão. Aproveitou e pediu providências imediatas para que a alta do dólar não tenha reflexos sobre o preço final do pão (mas quem paga a diferença?). Vai tentar, como ocorreu com o preço do gás de cozinha, capitalizar mais essa opção pelos pobres.

Ciro Gomes procurou ser diferente, mas não convenceu. Deixou meio-dito pelo não-dito e adiou sua adesão ao plano condicionando a posição a uma vista d’olhos nos documentos oficiais, que não estão prontos ainda (impressionante! Só ele não conhece). “Tão logo concluídos, eu me comprometi a estudá-los com urgência e em detalhes – disse – para então emitir uma nota por escrito sobre a minha posição definitiva.” As incertezas do mercado financeiro agradecem a “confiança” demonstrada pelo candidato.

Garotinho foi o mais maroto: saiu da reunião chutando o balde, embora não tenha havido registro de que tivesse esperneado diante do presidente. Até o cenário escolhido para distribuir nota avaliando o encontro foi diverso. Radicalizou seu discurso contra a política econômica do governo, a seu ver o responsável único da crise atual. O caminho? Ora, primeiro precisa vencer a eleição. O encontro – afirmou – não acrescentou nada.

Acrescentou, sim. Deu para vislumbrar o estilo que cada um dos candidatos usa para escamotear a realidade e dissimular seus pensamentos. Para eles, a sinceridade é uma virtude relativa. E isso não é – desculpe-nos sua excelência o presidente – exatamente sinal de maturidade. Cairia melhor o termo oportunismo. Ou, como se costuma dizer por aqui, navegar na maionese.

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