Manobras impedem votação de cassação de Roberto Brant

Uma série de manobras, tentativas de acordo entre legendas e discursos demorados impediu que o Conselho de Ética da Câmara votasse hoje (25) o parecer que recomenda da cassação do deputado Roberto Brant (PFL-MG), depois de quatro horas de discussão. A sessão foi encerrada por causa do início da ordem do dia (discussão e votação de projetos) no plenário da Câmara e será retomada amanhã (26). O regimento impede a realização de sessão do conselho depois de iniciada a ordem do dia.

Quando a sessão terminou, às 18h, estava claro que a votação seria muito apertada e o placar seria de 7 a 7 ou de 7 a 6, se o PSDB mantivesse apenas um de seus dois conselheiros na sessão. Na primeira hipótese, o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), que só vota em caso de empate, aprovaria o relatório. Na segunda, independentemente de o resultado ser pela cassação ou pela absolvição, não seria cumprida a exigência de maioria absoluta (oito votos) e o processo seria analisado pelo plenário da Câmara sem parecer.

Hoje, apesar de o próprio Roberto Brant ter autorizado o prosseguimento da discussão e votação no conselho, Ricardo Izar preferiu o encerramento, dizendo ter seguido orientação da Mesa Diretora e do presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP). "Qualquer um poderia pedir a nulidade da decisão do conselho, porque a ordem do dia já tinha começado", justificou Izar.

O líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), que assistiu a boa parte da sessão, negou que seu partido pretendesse retirar um conselheiro da votação. Nenhum dos dois titulares do PSDB no conselho estava presente. Carlos Sampaio (SP) está viajando e Mendes Thame (SP), segundo o líder, tinha exames médicos em São Paulo. Goldman disse que o suplente Gustavo Fruet (PR) deixou a sessão do conselho porque tinha começado a ordem do dia. O outro suplente tucano, Bosco Costa (SE), ficou no conselho. "Não somos um grupo de siameses. Eu saí com o deputado Fruet e o deputado Bosco preferiu ficar. Avisei ao Izar que a sessão no plenário tinha começado e era melhor suspender a sessão do conselho. Pensamos que o conselho retomaria às sete horas da noite", disse o líder tucano.

Por fazer parte da CPI dos Correios, que apontou uma série de deputados beneficiados com dinheiro de caixa 2, inclusive Roberto Brant, Gustavo Fruet preferia não votar os pareceres do conselho. Uma das possibilidades é que ele renuncie amanhã à vaga no conselho e o PSDB escolha outro suplente.

A sessão começou tensa, às 11h15, por causa da ausência do deputado Pedro Canedo (PP-GO), que é a favor da cassação. O relator Nelson Trad (PMDB-MS), indignado, denunciou que Canedo estava sendo "pressionado pela direção do partido de forma quase invencível" a não comparecer e pediu a suspensão ou adiamento da sessão até que Canedo comparecesse. "Uma pressão como essa seria a degradação, um ato de certa forma canalha", protestou Trad. "Não se pode emporcalhar o Legislativo como um valhacouto de porcalhões dessa maneira, isso tem que ser denunciado de viva voz", atacou o relator.

A sessão foi suspensa por causa da ordem do dia e retomada às 15h. Por volta das 13h, Canedo apareceu. Minimizou a tentativa de manobra do PP, mas informou que tinha sido "orientado" pelo presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), a aguardar uma instrução do partido antes de ir para a sessão do conselho. "O deputado Pedro Corrêa perguntou meu voto e eu externei. Depois recebi através de interlocutores sugestões para votar de outra forma. Foi sugerido hoje que eu aguardasse uma reunião do PP. Depois, o líder Mário Negromonte me disse que eu votasse com a minha consciência", disse Canedo aos conselheiros.

A estratégia inicial do PP era que votasse no lugar de Canedo o deputado Celso Russomano (SP), em favor de Brant, mas, diante da péssima repercussão depois da denúncia de Trad, o partido recuou. O PP votará dividido, com Benedito de Lira (AL), a favor da absolvição de Roberto Brant e Pedro Canedo pela cassação. Por meio da assessoria de imprensa, Pedro Corrêa confirmou apenas que consultou Canedo sobre o voto, mas negou qualquer tentativa de "acordão" com o PFL e disse que não recomendou que Canedo aguardasse uma orientação partidária. Corrêa também está na fila do Conselho de Ética. O parecer pela cassação de seu mandato será votado na próxima terça-feira (31).

Depois de ouvir Canedo, o deputado Edmar Moreira (PFL-MG) pediu a palavra: "O Conselho de Ética foi vítima de um trote." O deputado Chico Alencar (P-SOL-RJ) disse a Canedo: "Não preciso de autorização para votar com minha consciência. A palavra indignada do deputado Nelson Trad contestou a versão de Vossa Excelência e isso é ruim para todos nós.

Amanhã, depois da votação do processo de Roberto Brant, será votado o parecer pela cassação do mandato do deputado Professor Luizinho (PT-SP). O relator do processo de Luizinho é Pedro Canedo.

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