Mangueira faz um desfile de campeã e levanta o público

A sempre favorita Mangueira faz um desfile de campeã, contando as lendas e a história do rio São Francisco. Como sempre, levanta a platéia, que exibe, orgulhosa, bandeirinhas e bandeirões distribuídos pela escola. Antes da Verde-e-rosa, passou pela avenida a Porto da Pedra, que fez uma apresentação problemática e está cotada para deixar o grupo especial do Rio.

A Mangueira surpreendeu logo na comissão de frente, coreografada pelo dançarino Carlinhos de Jesus. Quinze integrantes, nove rapazes e seis moças, evoluem junto a uma grande carranca, que, diante da cabine dos jurados, se transformou num barco. De dentro, surgiu Carlinhos, ovacionado pelo público.

Um tecido azul preso às bordas da alegoria é agitado pelos bailarinos, numa simulação das águas do Velho Chico. Um outro tecido, estes nas cores da agremiação, aparece depois e lembra, como diz o samba, que "a esperança do sertão transbordou em verde-e-rosa". Os dançarinos vestem fantasias inspiradas em telas de Cândido Portinari sobre a figura do sertanejo – elas usam capas que reproduze pinturas; eles têm o próprio torso pintado.

A apresentação foi ensaiada exaustivamente desde outubro do ano passado, contavam os integrantes ainda na concentração. Carlinhos de Jesus comandou o grupo com rigidez. "Além de ensaiar quatro horas por dia, de domingo a domingo, eles nos obrigou a fazer 1.200 abdominais por dia e mais meia hora de corrida. Carlinhos nos quer sarados como ele", brincou Átila Amaral, de 20 anos, bailarino que começou a dançar por admiração ao atual mestre.

A escola canta a vida selvagem às margens do São Francisco. Mostra índios, sereias, sertanejos, cangaceiros. Por vezes, lembra o célebre desfile de 2002, quando a Mangueira levou o campeonato com um lindo enredo sobre o Nordeste.

A polêmica sobre os investimentos de R$ 500 mil do governo do Ceará não abalou o carnavalesco Max Lopes. O problema chegou à Justiça cearense, que investigou o repasse, feito sob intermédio do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. Tudo porque o enredo fala do projeto de transposição das águas do rio que tem como objetivo beneficiar áreas que sofrem com a seca (não só no Ceará, mas também no Rio Grande do Norte, na Paraíba e em Pernambuco). "Só trato da parte artística, não quero saber de questões comerciais", disse Lopes, na concentração.

O intérprete Jamelão está no alto do carro de som, com o vozeirão firme, apesar dos rumores de que não sairia, por conta da idade avançada e de problemas de saúde.

A rainha da bateria, Jaqueline Nascimento Silva, loura da comunidade, brilha. "Estava muito ansiosa, mas agora que passamos pelo setor 1 sei que vamos levar o título", afirmou. Ela desfila ao lado de duas princesas, ambas mulatas, e dá conta do recado

Voltar ao topo