Lula, o retorno

Nas ondas do rádio as palavras fluem e, em geral, pouca coisa fica. Principalmente quando se trata de política, de promessas, improvisos.

O presidente Lula, em uma de suas últimas falas através do rádio, no tradicional "Café com o Presidente", disse que no final do seu mandato vai voltar para São Bernardo do Campo. Retornar às suas origens, postando-se a 600 metros do Sindicato dos Metalúrgicos, onde começou sua vida de líder operário e político.

Lula referia-se a voltar às suas origens político-ideológicas. À luta por melhores salários para os trabalhadores; por adequadas jornadas de trabalho; participação nos lucros; segurança no trabalho; previdência que ofereça tranqüilidade; terras para os sem terra; empregos para os desempregados; estabilidade. Enfim, tudo o que foi objeto de suas lutas como líder sindical, repetiu como político e candidato e acabou pouco ou nada fazendo, quando no poder.

Parece evidente que o presidente da República está desiludido. Desiludido com o próprio desempenho, mas entendendo que não é incompetente, mas contido pela necessidade de obedecer às leis, principalmente a Constituição, a que referiu-se em outra oportunidade, falando aos "sem terra". As limitações da falta de recursos, da burocracia e da estrutura jurídica necessária, porém, que sem dúvida emperram o exercício do poder, não estavam presentes em sua mente, enquanto líder sindical e candidato. Hoje as vê e sente. E obriga-se a desculpar-se diante do seu eleitorado e sofrer a frustração de ver que pouco pode diante do muito que, por tantos anos, prometeu. Pensa em um retorno às origens. Não somente um retorno físico a São Bernardo do Campo, mas um retorno às lutas ideológicas que travou e hoje, no governo, parece haver abandonado. Está governando como o fizeram seus antecessores, na forma que tanto condenou. E isso frustra e cria sentimentos de culpa.

Imaginar-se que quando disse que vai retornar a São Bernardo no final do seu mandato, o período para o qual foi eleito, e que não será candidato à reeleição, é uma ilusão. Tomadas ao pé da letra suas palavras, é isto o que quis dizer. Vai voltar às origens e não será candidato à reeleição.

Mas não é assim que vem andando a carruagem. No governo e no PT tudo caminha para que seja candidato à reeleição. E tudo se faz para que isso seja viável. Final de mandato para ele, na verdade, significa final de um segundo mandato, pois a reelegibilidade já começa a integrar-se aos nossos costumes políticos e a ser vista como um passo natural de qualquer governante. A reeleição é um segundo tempo e não um bis. E, quando se frustra no primeiro período, esse bis parece se impor para que tente, em mais quatro anos de governo, cumprir pelo menos uma parte do tanto que prometeu. Lula será, certamente, candidato à reeleição. Mesmo porque, no PT, ninguém o substitui.

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