Lula não dá urgência necessária à reforma Agrária, afirma Boff

Num artigo divulgado há poucos dias, Boff disse que o governo do PT, assim como os anteriores, nunca deu a urgência necessária à reforma agrária. Criticou a política econômica e o apoio ao agronegócio, elogiou os movimentos sociais que continuam brigando pela redistribuição de terras e concluiu com uma frase sintomática do processo de desilusão: "A esperança deixou o Planalto e retornou à Planície."

O petista histórico e agrarista Plínio de Arruda Sampaio outro companheiro de marchas de Lula e que já foi filiado ao antigo Partido Democrata Cristão (PDC), também se mostra desiludido. Ao fazer uma lista de responsáveis pela chacina de cinco sem-terra ocorrida em Felisburgo, Minas, em novembro, não poupou o Executivo, que não estaria destinando ao Incra as verbas necessárias para a execução da reforma agrária. "Não há como absolver o governo Lula de parte da responsabilidade pelas mortes e ferimentos ocorridos em Felisburgo", escreveu.

O bispo d. Tomás Balduíno tem sido o crítico mais constante. Presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que sempre marchou ao lado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do PT, ele disse que a eleição de Lula está servindo para mostrar às lideranças populares que nunca devem esperar muita coisa do Planalto.

"Dizem que estou desapontado com o governo e com o PT, mas isso não diz toda a verdade: quem está desapontado de verdade são os líderes dos movimentos populares", disse. "Aliás, não se poderia esperar outra coisa de um modelo que privilegia o capital financeiro."

Agronegócio

No centro das críticas estão a política econômica do ministro Antonio Palocci e o apoio do governo ao agronegócio. No mesmo artigo, Boff afirmou que os dólares obtidos com a exportação de produtos agrícolas servem para ajudar o governo a pagar a dívida externa, mas com um alto custo social e ambiental: "Pagaremos em dia a dívida e(x)terna a preço de continuar matando e desmatando, não fazendo a reforma agrária e mantendo a exclusão social de milhões."

Neste cenário, também chama a atenção o afastamento de Frei Betto do governo. Amigo do presidente Lula, desde quando ele começava a se destacar como líder metalúrgico no ABC paulista, o dominicano estava encarregado de intermediar o diálogo da Presidência com o MST e as comunidades eclesiais de base (CEBs). Foi um dos articuladores do encontro ocorrido no ano passado durante o qual Lula vestiu o boné do MST, provocando a ira de ruralistas.

Logo após a eleição de Lula, Frei Betto disse que o sucesso do governo seria medido pelo desempenho que mostrasse na área da reforma agrária: "Se o novo governo não implantar um programa efetivo de reforma agrária, será um fracasso".

Frei Betto saiu do governo de forma discreta, alegando problemas pessoais, e sem fazer ataques ao governo. Curiosamente sua saída coincide com a piora nas relações entre Lula e os movimentos sociais – coisa que não poderia ocorrer nunca, na opinião do dominicano. "Lula é fruto do movimento popular", disse ele após a eleição. "Sem as CEBs, o MST, a CUT, a Central dos Movimentos Populares e outros movimentos organizados não haveria o Lula presidente."

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