Lula e o FMI

Lula geralmente não diz o que escreve, ou o que para ele escrevem. E seria conveniente que nem sempre seus ouvintes escrevessem o que diz, pois não raro é levado pelo entusiasmo, fazendo afirmações desejáveis, porém impraticáveis.

Há poucos dias, em mais um de seus discursos públicos, o presidente disse que não precisamos mais do FMI. Isto agrada muita gente que demonizou o Fundo. Mas mais um acordo ou o uso de vultosos saldos dos recursos colocados pelo FMI à disposição do nosso País não estão descartados. E os compromissos com aquela instituição continuam de pé, agora com uma vantagem – ou redução de desvantagem – para o nosso País.

Foi uma vitória do governo Lula conseguir convencer o FMI a excluir da economia gigantesca que faz para produzir superávit primário e, com essa montanha de dinheiro, pagar juros da dívida externa, o que for aplicado em infra-estrutura.

O calcanhar-de-aquiles do governo petista, para os que pregam uma maior atenção ao desenvolvimento nacional e aos nossos problemas sociais, é exatamente a prática do governo petista em produzir superávites primários cada vez maiores. Isso, para a esquerda ortodoxa, é entreguismo e o seguimento da linha dita neoliberal. Para a Igreja, um caminho que leva aos céus os tecnocratas do Fundo e ao inferno os que praticam uma política considerada de beija-mão, com mais respeito aos investidores e banqueiros que às reais e atuais necessidades do nosso povo.

Os apelos para reduzir o superávit primário e reservar dinheiro para o desenvolvimento econômico e social têm encontrado ouvidos moucos no governo. Mas agora, vamos reconhecer, o governo Lula acaba de conseguir uma vitória espetacular junto ao Fundo. Mesmo dizendo que não precisamos mais do FMI, Lula e seu governo conseguiram da instituição uma mudança de conceito entre o que são gastos e o que são investimentos. Para o Fundo, tudo o que o governo debita do dinheiro que recebe, seja de impostos, taxas, seja de empréstimos, são gastos. O nosso governo conseguiu convencer os técnicos daquela instituição que as aplicações em obras de infra-estrutura, necessárias para o funcionamento e desenvolvimento do País, não são gastos e sim investimentos. Absolutamente correto e se o FMI isso não entendia, era porque, montado dentro de práticas de países capitalistas desenvolvidos, estava habituado a ver obras de infra-estrutura feitas pela iniciativa privada e não pelos governos. Para o Fundo, o governo gasta. Investir é coisa da iniciativa privada.

Mas é cegueira pior, de quem não quer ver, insistir que em países como o nosso não devem existir investimentos do governo em infra-estrutura. Não só podem, como devem. O atual governo brasileiro inventou as PPPs para que tais investimentos se façam através da sociedade entre ele e a iniciativa privada. O modelo foi aprovado pelo Congresso e a expectativa, agora, é ver se na prática vai funcionar.

O Fundo acaba de permitir que o Brasil, na montagem do superávit para pagar a dívida externa, exclua US$ 3 bilhões. Dinheiro que não irá para os banqueiros e investidores, mas para o nosso desenvolvimento econômico.

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