Lula e Alckmin inflaram números no debate

No último debate do segundo turno, transmitido nesta sexta-feira (27) pela Rede Globo, o presidente Lula inflou um pouco mais o valor de investimentos que diz ter realizado no setor de saneamento. Até a semana passada, o presidente vinha afirmando ter disponibilizado R$ 10 bilhões para as obras em quatro anos; ontem surpreendeu ao tirar da cartola um valor de R$ 12,9 bilhões. Na realidade, o governo federal não destinou nem R$ 12 9 bilhões, nem R$ 10 bilhões para o saneamento, mas metade disso segundo levantamentos do próprio Ministério das Cidades. A outra metade dos recursos foi apenas contratada ou autorizada pela lei orçamentária, mas não saiu ainda dos cofres federais.

Nos debates anteriores, Lula chegou a dizer que tinha aplicado 14 vezes mais do que seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Como foi informado pela reportagem a conclusão do presidente – repetida em dois debates – não correspondia à realidade; nesta sexta-feira, Lula não mencionou a comparação de "14 vezes", mas voltou a dizer que fez mais do que o governo anterior, tanto em saneamento quanto em saúde.

Na prática, de acordo com os dados oficiais, os gastos em saúde e saneamento de ambas as gestões são muito parecidos, mas o presidente tenta mostrar uma superioridade que não existe, porque esquece de corrigir pela inflação os valores de anos anteriores que apresenta diante das telas da televisão. Para os leigos, pode parecer um detalhe técnico, mas não é: a inflação corrói o verdadeiro valor dos recursos; portanto, deve ser descontada.

É o que acontece, por exemplo, com a área da saúde. Lula disse novamente, no debate desta sexta-feira da Globo, que o Ministério da Saúde gastou R$ 28,5 bilhões em 2002 e deve gastar R$ 44 bilhões em 2006. Aparentemente, esse aumento é de 50%. Em termos reais, descontando a inflação, os valores são apenas 5% superiores. E esse aumento só existe porque há uma regra constitucional que obriga o governo a corrigir os gastos de saúde de acordo com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Ao comentar a confusão que a citação de números causa na cabeça das pessoas simples, o presidente chegou a lembrar um velho amigo sindicalista que lhe recomendava apresentar um amontoado de números porque ninguém se daria ao trabalho de conferir. Mas o exemplo só foi dado pelo presidente para acusar seu adversário, Geraldo Alckmin (PSDB), de manipular os números. "O Alckmin adora brincar com os números porque imagina que o povo não vai checar", disse Lula.

ALCKMIN – Durante as duas últimas semanas, a reportagem vem checando os números citados pelos dois candidatos e apontando os exageros e erros cometidos por ambos, mas com pouco sucesso. Tanto Alckmin quanto Lula repetiram as mesmas impropriedades nos confrontos posteriores. O candidato do PSDB, por exemplo, chegou a dizer duas vezes que economizou R$ 4 bilhões em gastos do Estado de São Paulo, quando os dados oficiais mostram o contrário.

Nesta Sexta-feira, o tucano também exagerou ao sugerir que toda a receita anual da CPMF, de R$ 30 bilhões, é destinada constitucionalmente à saúde. Da alíquota de 0,38% sobre as transações bancárias citada por Alckmin, apenas 0,10% está vinculada à área de saúde. O restante é vinculado à Previdência e ao fundo de combate à fome e erradicação da pobreza.

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