Lula desembarca hoje em Londres e se hospeda em Buckingham

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje à noite em Londres para uma visita de Estado que começa amanhã (7), quando será recebido oficialmente pela Rainha Elizabeth II, no Palácio de Buckingham, e vai durar três dias. Terceiro presidente brasileiro a ser recebido com honras de chefe de Estado na Inglaterra, Lula pretende aproveitar a visita para ampliar o comércio bilateral entre os países, hoje de US$ 4 bilhões. O montante é considerado muito pequeno, apesar do superávit em favor do Brasil, levando-se em consideração que o Reino Unido é o terceiro maior importador do mundo.

Nos encontros que terá com autoridades britânicas, Lula deverá insistir na proposta de realização de uma reunião de líderes mundiais para destravar a Rodada Doha – idéia pela qual o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, havia demonstrado simpatia, mas em relação à qual ainda mantém reservas, por causa da subordinação da Grã-Bretanha à União Européia. Também vai reiterar a defesa da reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O delicado tema da morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto no ano passado pela polícia inglesa, também deverá entrar na pauta das conversas.

A viagem do presidente brasileiro tem três estágios. O primeiro, muito protocolar, consiste na visita oficial de chefe de Estado. Lula e D. Marisa farão, em uma carruagem real, o trajeto de 10 minutos entre a embaixada brasileira e o Palácio de Buckingham, onde serão recebidos pela Rainha Elizabeth II. Um integrantes da família real acompanha o casal presidencial brasileiro até os aposentos onde eles ficarão hospedados.

Na mesma noite, Lula será homenageado com um banquete real, mas foi dispensado de usar o white-tie, que consiste em uma versão mais sofisticada do black tie, no qual o colete e a gravata-borboleta devem ser brancos e a casaca e as calças, negras. Para mulheres, o correspondente seria um vestido de gala com jóias. Lula e a comitiva brasileira usarão terno. A mudança do traje foi objeto de negociação entre os dois governos.

Comercial

Mas a visita de Lula a Londres terá um lado comercial muito forte. O presidente brasileiro participará de três eventos com empresários, em um deles juntamente com o primeiro-ministro Tony Blair. Os dois países deverão, também, criar um Comitê Econômico Bilateral para atuar sobretudo no impulso ao comércio e aos investimentos de lado a lado. Além do encontro com Blair, que se dará na tradicional sede de governo britânico, em Downing Street, no dia 9, para tratar também da reforma da ONU e da reunião de líderes mundiais para destravar a Rodada Doha, Lula pretende tratar com o ministro das Finanças britânico, Gordon Brown, de sua proposta de criação de mecanismo para o financiamento de campanhas de vacinação maciça de populações contra enfermidades típicas de países mais pobres.

Na sua agenda, curiosamente, o presidente Lula incluiu encontros com a "oposição" ao governo Blair – ou seja, com representantes de centro direita. O presidente receberá os líderes do Partido Conservador, David Cameron, e do Liberal-Democrata, assim como o polêmico prefeito de Londres, Ken Livingstone, mais conhecido como Red Ken, que está suspenso de suas funções por ter comparado um repórter de origem judaica a um guarda de campo de concentração no mês passado. Gordon Brown e David Cameron são aspirantes ao cargo de primeiro-ministro, sendo que o primeiro é considerado hoje o mais provável sucessor de Blair.

Durante os três dias em que permanecerá em Londres, o contato mais próximo que Lula terá com a comunidade brasileira – atualmente, com cerca de 30 mil cidadãos – será na abertura de uma exposição sobre a Tropicália, no Centro Cultural Barbican. No último dia de sua visita ao país, Lula repetirá a fórmula adotada em outras viagens: vai participar de um café da manhã com líderes de cerca de dez grandes companhias locais, entre as quais a Rolls-Royce, a mineradora Rio Tinto e a Shell, e de empresas brasileiras, como a Petrobras e a Companhia Vale do Rio Doce.

A morte do brasileiro Jean Charles certamente fará parte de algumas das conversas do presidente brasileiro com autoridades inglesas. O diário britânico "Daily Mail" chegou a noticiar que a Rainha Elizabeth II poderia apresentar um pedido velado de desculpas pela morte do brasileiro, durante o banquete no Palácio de Buckingham. Mas autoridades dos dois países não quiseram confirmar se isto ocorrerá. Ao mesmo tempo, foram divulgadas informações de que os advogados da família do brasileiro Jean Charles, morto pela polícia inglesa no metrô de Londres em julho do ano passado, teriam encaminhado pedido de audiência com o presidente Lula, mas o encontro também não foi confirmado. Parentes do eletricista querem pedir que o presidente interceda diante do governo britânico para garantir uma solução satisfatória do caso.

O convite a Lula para visitar o Reino Unido foi feito durante reunião de cúpula do G-8 (grupo dos sete países mais industrializados e a Rússia) em Gleneagles, na Escócia, em julho do ano passado, e representa o reconhecimento do Brasil como "potência emergente chave", de acordo com autoridades inglesas. Também é o reconhecimento do presidente Lula como "um personagem muito grande no mundo, um líder", conforme disse o embaixador do reino Unido no Brasil, Peter Colecott, que resumiu a visita como um fato "muito especial".

Anualmente, o Reino Unido recebe de duas a três visitas de Estado. Diferentemente de uma visita de trabalho, a visita de Estado segue, em geral, uma série de rituais, como desfile militar e ida às sedes dos Três Poderes. Apenas dois ex-presidentes brasileiros já fizeram visitas de Estado ao Reino Unido: Ernesto Geisel, em 1976, e Fernando Henrique Cardoso, em 1997. Além do presidente Lula, a Rainha Elizabeth II só vai receber este ano em visita de Estado, o rei Juan Carlos, da Espanha.

Sete ministros integram a comitiva de Lula: Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Antonio Palocci (Fazenda), Fernando Haddad (Educação), Sergio Rezende (Ciência e Tecnologia), Gilberto Gil (Cultura), Matilde Ribeiro(Igualdade Racial), além do chefe da Assessoria Especial do presidente, Marco Aurélio Garcia. Segundo o Itamaraty, todos os ministros também ficarão hospedados no Palácio de Buckingham.

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