Lula ataca

Atribui-se ao imperador Napoleão Bonaparte a regra de que a melhor defesa é o ataque. Ataque a inimigos. O presidente Lula acaba de adotar essa tática, mas na base do fogo amigo, ou seja, atacando gente de suas próprias fileiras. Quer amainar ou anular o que possa ser levantado por uma CPI do Apagão Aéreo. O presidente determinou à Polícia Federal que inicie uma investigação na Infraero, a estatal que administra os aeroportos brasileiros. A estratégia do governo é clara: já admite que será impossível barrar a criação da CPI, requerida pela oposição na Câmara dos Deputados e agora também no Senado. Impedi-la, o governo tentou. O assunto foi parar no Supremo Tribunal Federal, tal a resistência situacionista e insistência oposicionista. O STF considerou legítima a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito em liminar, pois é necessário que o povo saiba o que vem acontecendo há mais de meio ano, desde a queda de um avião da Gol com a morte de mais de uma centena e meia de passageiros. O que se conhece são os efeitos, paralisações parciais e uma total do tráfego aéreo. E um joga a ?batata quente? daqui para ali, culpando as companhias aéreas, os controladores de vôo, a chuva, os computadores, a falta de energia elétrica, supostos boicotes e até causas misteriosas. Os passageiros tiveram de transformar aeroportos em acampamentos, às vezes dormindo no chão, à espera do avião que não vinha ou não subia. Lula conseguiu até certo ponto escapar de assumir responsabilidade. Que cabe ao governo, já que todo o sistema lhe é subordinado. Mas uma CPI pode ser um palanque onde causas evidenciadas serão jogadas no colo do governo, que não escaparia de ser indigitado.

Mandando investigar a Infraero, que já é atacada pela oposição com denúncias de maracutaias em reformas de vários aeroportos na primeira gestão de Lula, o governo se antecipa e tem a desculpa de que a CPI é desnecessária porque a administração federal já está investigando. Ou, na hipótese de que mesmo assim saia a CPI, jogará uma investigação sua na pauta dos trabalhos do órgão parlamentar investigatório, aparecendo como quem antecipou iniciativas em busca da verdade e dos culpados.

A ordem já teria sido dada ao diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, e este imediatamente movimentou o serviço de inteligência do órgão. Algumas das irregularidades na Infraero já foram apontadas pelo Tribunal de Contas da União e pela Controladoria Geral da União. Tais acusações ou suspeitas determinaram o afastamento de quatro funcionários da Infraero, estatal que é ligada ao Ministério da Defesa.

Quando isso foi feito, desabafou o senador tucano Arthur Virgílio dizendo que estavam tentando esvaziar a CPI: ?Estão querendo entregar quatro bois para deixar passar uma boiada?. O ex-presidente da Infraero senador Carlos Wilson (PT-PE) tem choramingado que se sente abandonado. Que a CGU vem vazando informações contra ele para a imprensa. Carlos Wilson foi nomeado para a Infraero por indicação do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Na Câmara ou no Senado, a CPI deverá convocar para depor Roberto Teixeira. Para o senador José Agripino Maia, líder do DEM, ex-PFL, a convocação é inevitável. Ele foi o intermediário do negócio milionário de US$ 320 milhões da compra da Varig pela Gol. ?É evidente que vamos chamar o senhor Teixeira. Tem muita coisa escondida?, diz Agripino Maia.

Roberto Teixeira é duplamente compadre de Lula. Como amigo íntimo, nos tempos das vacas magras, cedeu de graça um apartamento para Lula morar, enquanto Paulo Okamotto, hoje no Sebrae, pagava do próprio bolso dívidas do presidente. É gente da cozinha.

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