Lula afirma que ‘não foi pouco’ o que o governo executou

Num discurso otimista e ufanista, de cerca de 20 minutos, que abriu a terceira e última reunião ministerial do ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que "não foi pouco" o que o governo executou nestes dois "árduos anos" de gestão.

Lula reconheceu, no entanto, que as iniciativas estão "muito aquém do que a sociedade reclama", embora assegurasse que fez "parte do possível e, talvez mesmo, algo do impossível" e que o País está "no rumo certo". Segundo ele, que anunciou entrar numa segunda fase do mandato, "hoje, tudo começa a mudar" justificando que "esta é a hora do desenvolvimento, do crescimento com geração de emprego, distribuição de renda e inclusão social".

Mais uma vez, Lula criticou, severamente, a administração passada, começando por renegar a política econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que assegurou ser diferente da atual. Só que é por causa da manutenção dessa política, que o presidente e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, recebem os mais duros ataques dos petistas das mais diversas correntes. O assunto foi objeto de muitos documentos do partido, um deles divulgado ontem, principalmente, por causa dos juros altos e do aumento do superávit primário. Lula avisou que "vai continuar persistindo, criativamente", nas políticas econômica e social.

"Não demos continuidade às políticas do governo anterior e fizemos o que deixou de ser feito", disse, destacando que "reconstruiu" a economia, fortaleceu as instituições e, sobretudo, conquistou credibilidade no Brasil e no exterior". Segundo o presidente, "a catástrofe anunciada por alguns – aqui e lá fora – não se reproduziu" porque "fomos capazes – governo e sociedade – de impedi-la" e, "nestes dois primeiros anos, revertemos um processo que nos conduzia ao abismo".

Lula afirmou ainda que "tão importante quanto essa transformação objetiva foi a mudança num sentimento de prostração – quando não de desesperança – que se apossara de nosso povo".

Depois de auto-elogiar a política econômica do atual Poder Executivo, o presidente comemorou os resultados obtidos. Falou que os indicadores da economia são os melhores dos últimos dez anos e abordou superávits significativos e o Produto Interno Bruto (PIB) além das expectativas mais otimistas. Lula assegurou ainda que "não se trata de uma bolha, de um espasmo", que "se anuncia processo consistente e duradouro", e que começa a "enxergar um novo caminho a ser trilhado", mesmo sabendo que "este caminho é cheio de obstáculos".

Medidas amargas

De acordo com o presidente, "as medidas de política econômica adotadas, algumas amargas, outras incompreendidas ou criticadas, nos permitiram pôr o País no rumo certo". Depois de afirmar que estas medidas "eram e são condições necessárias para enfrentar os grandes desafios que temos pela frente", Lula agradeceu pelo fato de "esses desafios" terem sido "entendidos pelos milhões de brasileiros e brasileiras que nos trouxeram ao Planalto em 2002". O presidente destacou: "Compreendemos os que, movidos pelo desejo de mudança, se impacientam com o ritmo das transformações. Respeitamos os seus sentimentos e renovamos sempre nosso convite ao diálogo."

Em mais um ataque aos antecessores, Lula disse que "este país tem de crescer, e crescer muito, para recuperar as décadas perdidas que sucatearam os setores de nosso parque produtivo e de nossa infra-estrutura", justificando que "recessões ou crescimentos medíocres aprofundaram, sobretudo, a enorme brecha social que marca nosso país".

O presidente fez um balanço das ações do Executivo nos últimos dois anos, defendeu com veemência os programas sociais e reiterou que "a obsessão do meu governo é atacar a fome, a pobreza e a exclusão social".

Ao fazer o levantamento dois anos de governo, Lula dedicou um trecho a agradecer ao Congresso e a todos os partidos pelas reformas aprovadas, ao Judiciário "pela forma independente com que pautou sua atuação" e aos prefeitos e governadores que, "sem perder suas identidades partidárias e seus compromissos eleitorais, não hesitaram em pôr o interesse nacional em primeiro lugar, quando necessário". Até as Forças Armadas, que protagonizaram uma crise há dois meses, que levou à saída do então ministro da Defesa, José Viegas, mereceram elogio de Lula e o reconhecimento de que precisam ser reequipadas.

Ao mesmo tempo em que observou que herdou "uma máquina administrativa ineficiente", o presidente disse que os funcionários públicos federais foram "importantes personagens" na transição. Do lado de fora da Residência Oficial do Torto, onde o presidente mora e onde foi realizada a reunião, funcionários do Ministério da Cultura faziam um protesto por melhores salários e condições de trabalho e exibiam uma faixa com os dizeres: "Enquanto Gil canta, a gente dança."

O ministro da Cultura, Gilberto Gil, participava do encontro onde estavam presentes 36 dos 35 ministros. O único ausente era o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Waldir Pires, que está viajando.

Política externa

O presidente comemorou também o "sucesso" da política externa do Palácio do Itamaraty, que classificou como "ativa e altiva", e voltou a defender a integração regional. "Este país precisa, finalmente, projetar seu desenvolvimento em articulação com a América do Sul, promovendo uma integração regional moderna, solidária, sem hegemonismo", declarou ele, que, ao relatar as estratégias de aproximação, assegurou que "tudo isso foi feito sem choques e conflitos com os grandes países desenvolvidos".

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