Líderes partidários desconfiam de crescimento do Partido da República

O crescimento anabolizado do Partido da República (PR) está intrigando os líderes partidários. Resultado da fusão dos extintos PL e Prona, o PR elegeu apenas 25 deputados, o que representava menos de 5% dos eleitos e a modesta sétima bancada da Câmara. Agora, a legenda se tornou um sucesso na arregimentação e convencimento de deputados. Um mês depois do início da atual legislatura, o PR abocanhou 13 deputados dos partidos de oposição e passou a ameaçar o PP, que com 42 deputados é o quinto maior partido da Casa.

Para o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), toda essa movimentação é incomum. ?Esse crescimento do PR é muito estranho. Está na hora de se investigar isso?, afirma.

Já o presidente do PTB, Roberto Jefferson, cassado por denunciar o mensalão em 2005, vai além. Ele acredita que no acelerado crescimento do PR estariam as sementes de um novo mensalão. O petebista diz ter sido informado, por pelo menos dois deputados, de que nesse jogo de troca-troca além de cargos estariam sendo oferecidos luvas de R$ 400 mil e pagamentos mensais de R$ 50 mil. Para Jefferson, caso se confirme essa negociata, o Congresso pode ser palco, mais uma vez, de uma avalanche de denúncias no Conselho de Ética

Os integrantes do PR negam meios irregulares de arregimentar adesões e se dizem entusiasmados com o crescimento recente. ?Nós vamos chegar a 50 deputados e estaremos entre as maiores bancadas da Câmara?, aposta o deputado Sandro Mabel (PR-GO), que já foi investigado pelo Conselho de Ética da Câmara, durante a crise do mensalão. Para outros caciques, o PR, com seus métodos, irá muito mais longe. ?Eles vão chegar a 70 deputados?, avalia o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE).

Entre os mecanismos de convencimento para adesão de parlamentares estariam velhos truques do fisiologismo. Dono do Ministério dos Transportes, que ficará sob o comando do presidente de honra do partido, senador Alfredo Nascimento (AM), o PR estaria oferecendo cargos no cobiçado Departamento Nacional de Infra-Estrutura dos Transportes (DNIT), além de espaço na máquina regional do partido.

A primeira denúncia do suposto esquema foi feita pelo deputado Márcio Junqueira (PFL-RR). Em entrevista gravada ao jornal O Estado de S. Paulo, ele acusou o PR de oferecer postos no DNIT com direito à indicação das empresas responsáveis pelas contratações de obras junto ao órgão. Pressionado pelo PR, Junqueira voltou atrás e contradisse sua versão anterior. Pelo menos quatro deputados procuraram a liderança do PFL para denunciar o esquema de cooptação de parlamentares para o PR.

Na atual legislatura, ocorreram 32 mudanças de legenda, sendo que o PR foi de longe o partido que mais se beneficiou com o troca-troca. A sigla ganhou 13 deputados. Do PPS, por exemplo, saíram três parlamentares: Homero Pereira (MT), Lucenira Pimentel (AP) e Neilton Mulim (RJ). Foram para o PR os tucanos Léo Alcântara, Marcelo Teixeira e Vicente Arruda, todos do Ceará. Já o PFL perdeu os deputados José Rocha (BA), Nelson Goetten (SC) e Tonha Magalhães (BA). O PTB ficou sem o deputado Jofran Frejat (DF). O PMDB perdeu Lúcio Vale (PA). Maurício Quintella Lessa (AL), ex-PDT, e Sandro Matos, que estava sem partido, também aderiram.

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