Líder comunitário boliviano pede asilo político ao Brasil

Aumentam as pressões do presidente da Bolívia, Evo Morales, contra os trabalhadores de Puerto Suárez e região, que defendem a construção da siderúrgica do grupo brasileiro EBX, presidido pelo empresário Eike Batista. Evo pediu a prisão do líder do Comitê Cívico de Puerto Suárez, Edil Gericke, que para escapar da cadeia oficializou hoje (1) na Delegacia de Polícia Federal de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, um pedido de asilo ao Brasil. Ele ficará no Brasil aguardando a tramitação normal da solicitação. "Não tive outra saída. Os oficiais de justiça estão na porta da minha casa para cumprir o mandado de prisão."

Ele é acusado de ser responsável pelo movimento que começou no dia 18, quando os manifestantes fizeram reféns os ministros Carlos Villegas, Walter Vilarroel e Celinda Sossa, do Desenvolvimento Sustentável, Minas e Desenvolvimento Econômico, respectivamente. Os três ficaram detidos na sede do comitê, das 19h do dia 18 até as 5h da manhã seguinte, quando foram libertados por tropas do exército boliviano.

Gericke nega a acusação, lamentando que seus direitos constitucionais estão sendo violados pelo governo. "Apenas os retivemos para que discutissem conosco o embargo às atividades da empresa, que estava criando empregos em nossa comunidade. Se caracterizaria seqüestro se tivéssemos mantido os ministros escondidos, incomunicáveis. Mas eles ficaram na sede do Comitê, em meio aos moradores. Estou pedindo asilo porque sinto que meus direitos estão sendo violados, há muitas ameaças contra mim por causa deste problema."

O delegado da PF, Alcídio de Souza Araújo, explicou que o pedido de asilo será enviado para a superintendência regional da instituição em Campo Grande, onde será instaurada uma sindicância para analisar a situação do líder comunitário. Em seguida, um processo será encaminhado ao Ministério da Justiça, em Brasília, para a decisão. Segundo Araújo, o asilo é concedido pelo ministro da Justiça por prazo limitado de no máximo dois anos, renovável enquanto persistir a condição de perseguição.

Segundo Gericke, a ação judicial também tem como objetivo a detenção de todos os dirigentes do movimento cívico. "O que o governo quer é fazer as detenções para depois negociar nossa liberdade em troca do fim dos protestos realizados pelos cidadãos de Puerto Suárez", acrescentou.

O Executivo acusa a companhia de ter violado a Constituição ao se instalar a menos de 50 quilômetros da fronteira e construir fornos que funcionam com carvão vegetal sem permissões ambientais.

Um juiz boliviano ordenou no sábado passado que a siderúrgica seja derrubada, o que levou os manifestantes de Puerto Suárez a cercar a fábrica para protegê-la da possível intervenção dos promotores. Também bloquearam a rodovia que liga Puerto Suárez a Santa Cruz de La Sierra e impediram e a abertura do aeroporto e das estações rodoviária e ferroviária. A disposição é manter os protestos até alcançar seus objetivos.

Em meio ao movimento, soldados do exército estão se aproximando do canteiro de obras da EBX. O governo alega que a tropa está defendendo o gasoduto Bolívia-Brasil contra prováveis ataques dos manifestantes.

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