Lessa escreverá livro sobre seus dois anos no governo Lula

Rio, 26 (AE) – Recém-demitido da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o economista Carlos Lessa anunciou hoje que escreverá um livro sobre os dois anos que passou no governo Lula. O título indica o que está por vir: Do Sonho ao Pesadelo. "Quando me convidou para o BNDES, o presidente Lula disse: Venha dirigir o banco dos sonhos dos brasileiros", contou durante homenagem que recebeu na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pelo seu retorno à academia. "Transitei do sonho ao pesadelo. Aliás, esse vai ser o nome do livro que escreverei sobre esses dois anos." Apesar da habitual acidez, Lessa frustrou quem esperava dele ataques diretos a Lula. O professor até elogiou o presidente, preferindo atirar contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Combinando metáforas médicas e bíblicas para falar da política econômica, voltou a dizer que Lula foi "enganado". De acordo com Lessa, o discurso feito por Palocci para o presidente é o discurso do médico, profissão do ministro.

"O médico faz isso. Ele diz ao paciente que, para alcançar a terra prometida da saúde, é preciso atravessar o deserto, as provações terríveis do tratamento", disse o economista. "Mas o caminho do deserto pode levar apenas ao deserto. Foi o que aconteceu com a coitada da Argentina." Lessa elogiou Lula em dois momentos. Primeiro, louvou o esforço do presidente pela integração sul-americana. "Esse mérito o Lula tem. Ele é o primeiro brasileiro a se jogar de corpo e alma na integração da América do Sul", disse o professor, que confessou achar "linda" a expressão "Estados Unidos da América do Sul". Depois, mencionando o economista Celso Furtado, morto há uma semana, homem nascido no semi-árido nordestino como o presidente, disse que Lula "não vai deixar o cariri".

"Tenho certeza que o presidente vai perceber que não há chuva de maná", disse Lessa. O maná, no caso, seriam os investimentos estrangeiros, que poderiam vir para o Brasil, por exemplo, por meio de projetos de Parceria Público-Privada (PPP), mecanismo que criticou. "A PPP pode ser uma fantástica armadilha", disse. "Cuidado com a PPP. A garantia não pode ser nunca a série de futuros rendimentos. Garantia é fundamental", afirmou o economista. "Tem de pedir tudo do organizador da empresa. Pede a calcinha da mulher do empresário", disparou, arrancando gargalhadas da platéia que, de pé, o ovacionara. "Não será a chuva de maná que vai salvar o Brasil, nos levando ao paraíso. O dinheiro não virá de fora, ele já está aqui dentro e está saindo."

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