Leitos hospitalares

Eufórico, Lula disse, durante a campanha eleitoral, que o sistema de saúde no Brasil estava quase perfeito. Ou estava mal informado ou deixou que seu desejo de implementar logo substanciais melhorias no sistema o entusiasmasse a tal ponto que confundisse o desejado com a realidade dos fatos. Estamos muito longe dessa perfeição e bem próximos do caos no sistema de saúde. E a verdadeira situação é, de fato, estatisticamente desconhecida ou equivocadamente interpretada. Não sabemos a quantas anda o nosso sistema de saúde, seja o público ou o privado. Um recente levantamento revela que o número de leitos hospitalares em todo o país sofreu uma redução de 5,9% entre 2002 e 2005. Foi a Pesquisa de Assistência Médico-Sanitária, elaborada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), um órgão oficial.

Em 2005 tínhamos 2,4 leitos por 1.000 habitantes. O Ministério da Saúde havia indicado um parâmetro de 2,5 a 3 leitos por 1.000 habitantes como ideal. Em 2002, esse índice era maior: 2,7. A maior queda verificou-se no setor privado (4,9% ao ano). No setor público, o declínio foi de 1,2%. Aí surge um dado que se presta a variadas explicações e multiplicadas dúvidas. Apesar do decréscimo de leitos hospitalares, houve aumento das internações. O número médio de internações por leito passou de 42 em 2002 para 52 em 2005.

Os coordenadores da pesquisa buscam tirar uma conclusão positiva disso. Significaria que os leitos podem estar sendo melhor aproveitados. Tal se deveria à melhora da medicina e dos equipamentos; os pacientes não precisam ficar mais tanto tempo internados. Uma conjectura positiva que nos parece não ter base nos fatos. O que se vê é doentes percorrendo diversos hospitais em busca de atendimento, muitas vezes de urgência, e não poucos morrendo antes de conseguir uma vaga. E também pacientes necessitados de atendimento especializado com equipamentos que não existem ou existem em número insuficiente.

Também tem sido prática comum os hospitais descartarem o quanto antes os pacientes que conseguem internamento, para que continuem o seu tratamento em casa, a fim de evitar a infecção hospitalar. E também para dar vaga a outros que estão à espera de leitos, o que melhora as estatísticas, mas não garante a melhoria da saúde dos internados.

O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, não vê preocupação na queda de leitos e não descarta que o ministério revise o parâmetro de leitos por habitante. Ele entende que a redução de leitos segue uma tendência mundial. Pode ser verdade, mas se cotejarmos os problemas de saúde de países desenvolvidos com o nosso vamos verificar que aquela melhoria de atendimento que permite a rotação mais rápida de pacientes usando os mesmos leitos é fato concreto lá fora. Mas parece estar muito longe de corresponder à realidade no Brasil, onde pacientes em estado grave, atendidos em bancos, corredores e até dentro de ambulâncias são espetáculos comuns e revoltantes. Outro fato incontestável que sugere ser equivocada a conclusão da autoridade é a espera para conseguir um leito hospitalar e o atendimento com equipamentos adequados. Essa espera não raro é de semanas e até meses.

A mesma autoridade diz que ?a tendência é diminuir os leitos hospitalares principalmente nos pequenos hospitais do setor privado. O hospital não pode ser um depósito de pacientes. O hospital tem de ser um local onde o paciente vai e tem um atendimento digno e humano?. Correto. E, depois, ele vai convalescer no seu fétido barraco, sujeito a infecções, má alimentação, carência de assistência especializada. Isso não é resolver o problema. É fugir dele.

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