Kirchner manterá restrição a produto brasileiro

O governo do presidente Néstor Kirchner deixou claro neste fim de semana que continuará aplicando restrições para a entrada de calçados e eletrodomésticos Made in Brazil. O Secretário de Indústria e Comércio, Miguel Peirano, que esteve na quinta e sexta-feira em Brasília reunido com representantes do governo brasileiro, afirmou que "os acordos entre privados e as limitações às importações do Brasil em setores sensíveis aos subsídios (do Brasil) continuam em vigência e nesse sentido, a indústria do calçado e linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar roupa) continuarão dentro dessa política".

Desta forma, Peirano respondeu ao secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Ivan Ramalho, que na sexta-feira declarou que "a indústria brasileira e o governo entendem que já houve uma contribuição importante do Brasil à indústria argentina e que desvio do comércio não recomenda um novo acordo de restrição voluntária"

O governo Kirchner preferiu não fazer comentários específicos sobre as declarações de Ramalho, restringindo-se a explicitar sua decisão de continuar aplicando as restrições aos produtos brasileiros. As restrições argentinas começaram em julho de 2004 quando Kirchner lançou uma cruzada contra a suposta "invasão" de produtos brasileiros. Para agradar os setores industriais argentinos, Kirchner passou a exibir um lado "protecionista" de seu governo. Na época, alegou que as indústrias argentinas corriam risco de desaparecer por causa da "avalanche" de produtos Made in Brazil, fato que levaria centenas de empresa à falência, e conseqüentemente, aumentando desemprego na Argentina.

Desta forma, Kirchner aplicou restrições por dois caminhos. Um, de forma unilateral, ao impor barreiras alfandegárias, como licenças não-automáticas. O outro, por meio de drásticas pressões, que levaram os empresários brasileiros a aceitar acordos "voluntários" de limitação de suas exportações para o mercado argentino.

Nos últimos dois anos, o governo Kirchner sustenta que as empresas argentinas precisavam desse período de restrições para poder recuperar-se da recessão de 1998-2002 e mais especificamente, da crise financeira, social e econômica de 2001-2002.

O governo brasileiro considera que os três anos de crescimento do PIB argentino – em média de 9% anual – e este quarto ano (no qual o PIB poderia crescer entre 7,5% e 9%) são sinais suficientes de que as empresas argentinas se recuperaram.

Mas o governo Kirchner considera que a recuperação ainda não está completa, e que é preciso esperar "um pouco mais" para abolir as restrições. Os empresários argentinos consideram que as declarações do governo brasileiro tem o objetivo de atender "questões internas" do Brasil, ou seja, reduzir ao máximo os motivos pelos quais a oposição – em plena campanha eleitoral poderia criticar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva; especialmente os relativos à política externa, um dos flancos fracos do atual governo.

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