Juros e investimentos

Especialistas consideram que os investimentos são baixos porque os juros continuam muito altos. Condenam a política conservadora do governo, via Banco Central, entendendo que o aumento nos investimentos, nos três primeiros meses do ano, que foi de 2,3%, em comparação com o quarto trimestre de 2003, e de 2,2%, em comparação com investimentos de igual trimestre do ano passado, é irrisório. Nos últimos quatro meses do ano passado, os investimentos cresceram 4%. A economista e professora paulista Vitória Saddi é uma das críticas dessa política. Ela considera baixo um crescimento de 2,3% no volume de investimentos, lembrando que é menor que o crescimento do Produto Interno Bruto. Segundo a especialista, esse conservadorismo na hora de decidir em investir é provocado pelos juros altos. O Banco Central acaba de manter a taxa básica de juros em 16% e os bancos ainda fornecem crédito para o setor privado cobrando percentual muito maior.

“A taxa de investimento foi baixa porque o juro continua alto. Isso dificulta os investimentos”, afirma o presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas – Abrasca, Alfried Plöger, para acrescentar: “Tudo fala contra o investimento: bolsa instável, dólar oscilando e juro caro”. E este é um homem que, por sua função, tem o pulso do mercado.

O Banco Central vem mantendo uma política ortodoxa, condicionando a taxa básica Selic às condições de mercado, mas em especial ao comportamento da inflação. Tenta, com juros altos, manter a inflação sob controle, caminho discutível, porque a inflação brasileira não é de consumo. Se fosse, ou seja, os preços subindo porque a procura é excessiva, e excessiva porque os preços se tornam convidativos uma vez que os juros são baixos na produção, na comercialização e nas compras a prazo, o consumo não estaria encolhendo. O mercado está é retraído e mesmo as homeopáticas quedas nos juros básicos não o têm animado.

Os empresários não se arriscam a tomar dinheiro emprestado aos juros hoje cobrados, que partem da taxa básica, mas na prática são muito mais elevados. Consideram que é um risco elevado. Risco de aumentarem a produção e acabarem com a mercadoria encalhada. Não venderem, não conseguirem pagar os empréstimos bancários e os fornecimentos de insumos, um caminho para a concordata ou mesmo a falência.

Antônio Carlos Porto Gonçalves, da Fundação Getúlio Vargas, diz que o crescimento de 2,3% no investimento é negativo. Menor que o do PIB.

Acrescenta que está provado que o crescimento do Produto Interno Bruto, de 2,7%, no primeiro trimestre, em relação ao ano passado, não foi resultado de ampliação da capacidade produtiva. “As empresas subiram a produção, mas ainda estão usando a capacidade instalada. Ninguém investiu em mais capacidade produtiva.” Se tal tivesse acontecido, haveria verdadeiro crescimento econômico, com geração de empregos. Vitória Saddi, professora do Ibmec, acredita que a retomada do investimento depende mais de fatores políticos do que econômicos. “A maioria dos problemas do Brasil são políticos e não econômicos. O governo mostra uma grande imobilidade para aprovar reformas, que teriam grande impacto sobre as decisões de investimentos”, conclui. E nem investimentos estrangeiros vêm: eles caíram de US$ 10,470 para US$ 3,1 bilhões num período de 12 meses.

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