Juros deverão ditar o rumo do mercado

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, em relação à taxa básica de juros nas duas próximas reuniões – na quarta-feira (19/04) e em 31 de maio -, vão ditar as decisões de investimento para o médio prazo, prevê Mario Carvalho, diretor de gestão de Fundos de Investimento do banco WestLB do Brasil. As eleições, segundo ele, devem gerar alguma volatilidade, mas sem fortes mudanças de tendência nos mercados, já que os dois principais candidatos, o presidente Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin, têm agenda macroeconômica comum, fincada no tripé metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário.

A inflação sob controle no curto prazo, com deflação nos preços do atacado, e o nível de atividade sem risco de desequilíbrio entre oferta e demanda aponta para um cenário de continuidade de redução do juro. A dúvida está em saber até que nível ele poderá cair.

A aposta mais forte é que ele poderá recuar a 14,25% no fim do ano – queda de 0,75 ponto porcentual na quarta, mais três reduções de 0,50 nas três demais reuniões. Mas não faltam prognósticos de juro mais baixo em dezembro. Tudo dependeria da decisão do Copom nos dois próximos encontros.

"Tudo indica que na quarta-feira, o BC corta 0,75 ponto", comenta Carvalho. "Nesse caso, a reunião de 31 de maio seria decisiva, pois nela o BC deve indicar o que quer com o juro." Se reduzir 0,50 ponto, diz, o BC estará sancionando as expectativas do mercado e indicar que vai fechar o ano com 14,25%; se der 0 75%, vai sinalizar que poderá chegar ao fim de 2006 com o juro básico em nível mais baixo.

Ainda segundo o diretor de Fundos do WestLB Brasil, o BC poderia também antecipar essa sinalização cortando um ponto na próxima reunião, sugerindo uma queda mais acentuada da taxa desde agora.

Se essa idéia se materializar, o juro poderia chegar ao fim de 2006 em 13%, uma expectativa que poderia deslocar o dólar para uma faixa de preço em torno de R$ 2,30, podendo chegar a R$ 2,50 dependendo de outro fatores, como os políticos, prevê Carvalho. A bolsa também tenderia à alta, rumando para os 45 mil pontos ou mais. "O que o BC decidir em 31 de maio vai dar uma idéia do que será o comportamento dos mercados até o fim do ano. Será mais determinante para a tendência dos mercados que a eleição."

Ele acredita que uma polarização entre Lula e Alckmin não redunde em estresses para o mercado financeiro. "Mas, se (Anthony) Garotinho começar a ameaçar Alckmin, aí será outro o cenário, e o câmbio poderá subir também por outros motivos, como reação ao temor de uma política populista."

Carvalho avalia que um juro nominal de 13% é bastante factível. Descontada a inflação de 4,50% projetada para o IPCA, isso daria juro real de 8%, pouco abaixo do nível de 9%, a que chegou três vezes nos últimos seis anos, comenta. "Agora, a economia está muito mais consistente e o BC pode ousar e buscar o patamar de 8%. " A perspectiva de investment grade também poderia favorecer uma redução mais acentuada dos juros.

Nesse cenário, considerado básico e mais provável, o mercado vai se plugar no que o BC vai fazer com o juro, o que tornaria o momento indicado para uma aposta em dólar, por meio de aplicação em fundo cambial dolarizado. A bolsa também seria uma opção atraente, com aplicação por meio dos fundos de ações. No mercado de juros, os títulos prefixados, como os CDBs, são mais interessantes. "Ou mais indicado é ir ao Tesouro Direto e comprar Letras do Tesouro Nacional (LTNs), papéis prefixados com vencimento em um ano ou um ano e meio, cujos juros serão mais sensíveis às próximas decisões do Copom", sugere. Se Garotinho chegar mais perto de Alckmin, o BC poderia recolher o carro e fechar o ano com juro de 14%.

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