Juros bancários são os menores desde 1994

Brasília – Os juros cobrados pelos bancos nos financiamentos a pessoas físicas, em março, recuaram 0,2 ponto porcentual e atingiram a média de 59% ao ano. De acordo com o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central (BC), Altamir Lopes, foi o nível mais baixo da série estatística iniciada em julho de 1994. A tendência de queda se manteve em abril e, no dia 11, os juros já tinham chegado a 58%. Segundo Lopes, é possível que o recuo tenha se acentuado após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), no dia 14, de reduzir pela sétima vez seguida a taxa básica da economia, a Selic. "Mas são taxas ainda elevadas", comentou.

A queda dos juros poderia ser maior, segundo Lopes, se os bancos estivessem repassando integralmente aos clientes a redução no custo de captação de recursos que vem ocorrendo desde maio. No entanto, o spread bancário (a diferença entre as taxas de captação e de aplicação dos recursos) aumentou de 43,6 pontos porcentuais, em maio de 2005, para 44 pontos final do mês passado. Nesse período, o custo de captação caiu de 18,9% para 15% ao ano, menor taxa desde o início da série histórica do BC. "O spread é quase três vez maior que a taxa de captação. É uma diferença muito grande", comentou Lopes.

A expectativa do chefe do Depec é de que o spread comece a ceder neste segundo trimestre. "Temos de levar em conta que o primeiro trimestre sempre é marcado por uma demanda mais forte pelo crédito", ponderou. Com a procura maior, os bancos não se sentem pressionados a reduzir o diferencial entre as taxas de captação e de aplicação. Com menos tomadores de crédito, o spread pode começar efetivamente a cair já neste mês, segundo Lopes.

O economista Adriano Pitoli, da Consultoria Tendências, no entanto, não prevê queda muito significativa. Segundo ele, "a redução do spread será lenta", havendo espaço para um corte de aproximadamente 2,8 pontos porcentuais até o último trimestre do ano. A lentidão na queda do spread, na avaliação do economista, pode ser explicada por distorções existentes no mercado de crédito. "Os clientes têm dificuldade, no Brasil, de tomar empréstimo em bancos diferentes daqueles onde mantêm suas contas", disse.

O maior obstáculo para que isso ocorra, segundo Pitoli, é o fato de os bancos terem dificuldade para avaliar com precisão o risco dos novos clientes. "Em função disso, o cliente não consegue tomar empréstimo num banco que esteja oferecendo uma taxa de juros mais baixa e acaba ficando leal à instituição onde tem conta", comentou. A solução, na opinião de Pitoli, terá de passar por uma ampliação do atual cadastro positivo do BC e por uma melhora de qualidade das garantias. "São reformas microeconômicas que mudarão esta realidade", disse.

Os incentivos para a tomada de empréstimos bancários, por outro lado, são cada vez maiores. "Com renda maior, a tendência é de aumento do crédito", disse o chefe do Depec, ao comentar um eventual impacto do reajuste do salário mínimo sobre a procura por financiamento bancário. Em março, o volume de crédito concedido pelos bancos a pessoas físicas chegou a R$ 167 2 bilhões, com alta de 2% em relação a fevereiro.

A elevação dos prazos médios é outro fator, segundo Lopes, que tende a puxar para cima o volume de operações de crédito. É que, com prazo mais dilatados, o valor das prestações pagas pelos clientes tende a ficar mais baixo e passa a caber no orçamento das famílias. No mês passado, o prazo médio das operações com pessoas físicas era de 220 dias. Há um ano, de 189 dias.

A inadimplência, por sua vez, tende a cair. "A tendência mais provável é de que, com uma renda maior, os tomadores de empréstimos procurem quitar ou renegociar suas dívidas em atraso", disse Lopes. Em março, a taxa de inadimplência geral permaneceu estável em 4,5% (2,2% no caso do crédito a empresas e 7,2% nos financiamentos a pessoas físicas).

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