João Jardim e Marcelo Gomes são os grandes premiados na Mostra BR

São Paulo (AE) – João Jardim e Marcelo Gomes estavam felizes da vida quinta-feira à noite, no encerramento da 29ª Mostra BR de Cinema, no Memorial da América Latina. Foram os grandes vencedores da festa. Tiveram de subir várias vezes ao palco na cerimônia que precedeu a apresentação da versão restaurada de O Encouraçado Potemkin, de Sergei M. Eisenstein, com música ao vivo – a trilha composta por Edmund Meisel em 1926 com regência do maestro João Maurício Galindo, à frente da Orquestra Jazz Sinfônica. Potemkin foi deslumbrante. Amanhã (5), às 21 horas, no mesmo local, haverá nova apresentação com música ao vivo. Não perca por nada deste mundo.

João Jardim ganhou o prêmio da juventude e o de melhor documentário do júri oficial e do popular com Pro Dia Nascer Feliz. "Toda essa acolhida para um filme que trata de educação no País é alentadora", disse. Marcelo Gomes venceu na categoria de melhor ficção, para a crítica e o júri popular, por Cinema, Aspirinas e Urubus, que estréia dia 11. E ainda subiu ao palco para receber o prêmio de melhor ator, que o júri instituiu para destacar o excepcional trabalho de João Miguel. Jardim recebeu o Prêmio Bombril, no valor de R$ 15 mil, que lhe coube pela vitória no júri popular. A melhor ficção para o público, vencedora do prêmio de R$ 25 mil da Bombril, foi Quarta B, de Marcelo Galvão.

O júri oficial atribuiu mais alguns prêmios – o de melhor roteiro para Liev Schreiber, por Uma Vida Iluminada, pela maneira como se vale dos objetos para resgatar uma história dramática que remete ao horror da 2ª Guerra, e prêmio especial para a direção e iluminação de O Pavão, do chinês Gu Chang-wei, que criam um clima poético muito forte numa obra de poderoso recorte humano e social. Pela segunda vez, o criador da Mostra, Leon Cakoff, e sua parceira Renata Almeida atribuíram o troféu Humanidade, que destaca um artista cuja obra permite ao público tomar consciência do mundo em que vive. O troféu foi criado em 2004 e, na primeira edição, premiou o mestre Manoel de Oliveira. Este ano, quem subiu ao palco do Memorial da América Latina foi o grande documentarista Eduardo Coutinho, que fez um discurso breve de agradecimento. "Como diz o ditado, quem fala demais fica besta", observou.

Como sempre, a cerimônia foi uma comédia de erros, que Cakoff e Renata tentaram evitar, entregando a apresentação a uma dupla conhecida da TV – Marina Person e Serginho Groisman. Foi pior. Quando erravam, pelo menos era em nome de alguma coisa – a defesa do amadorismo numa Mostra feita com competência, mas (quase) artesanal, graças à dedicação de muita gente que torna possível o maior evento de cinema em São Paulo. Entre outras trapalhadas, Marina e Groisman chamaram João Batista de Andrade ao palco na hora errada e ele recebeu de graça uma vaia do público ao ser anunciado como secretário de Estado da Cultura do governo Alckmin. Andrade virou o jogo. Já que não tinha o que fazer – o prêmio que lhe caberia entregar já fora dado -, convidou o público a assistir a seu filme sobre Vladimir Herzog. A vaia virou aplauso.

A premiação refletiu uma tendência que já vinha se desenhando ao longo dos 15 dias da Mostra. Foram exibidos cerca de 350 títulos; 42 – 12% – formavam a fortíssima representação nacional, número inédito na história do evento. Deste total, o público selecionou dois dos três documentários e cinco das 12 ficções habilitadas a concorrer ao troféu Bandeira Paulista, criado pela artista plástica Tomie Ohtake e que é atribuído aos melhores da competição que contempla diretores estreantes (até o segundo filme). O júri seguiu a tendência dos organizadores e do público e o cinema brasileiro deu show de bola na 29ª Mostra. Cinema, Aspirinas e Urubus é um grande filme, Pro Dia Nascer Feliz é um belo documentário. Quarta B é menos bom, mas o público, como o júri, foi soberano. Os críticos também fizeram suas escolhas e, além do prêmio para Cinema, Aspirinas e Urubus como melhor filme nacional, destacaram O Mundo, do chinês Jia Zhang-Ke, como melhor estrangeiro. Uma menção foi atribuída a Jon Wengström, pela curadoria da retrospectiva de Victor Sjöstrom.

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