Invasão da Câmara

A direção da Câmara dos Deputados está fazendo balanço dos prejuízos materiais sofridos com a invasão e quebra-quebra promovidos por militantes de um certo Movimento de Libertação dos Sem Terra. Irrelevante, não porque não se deva proteger o que é do povo de danos que a própria população terá de pagar, mas em razão de que este é o mal menor, se considerarmos a agressão sofrida pelas instituições democráticas, que têm de ser mantidas e respeitadas a qualquer preço, sob pena de romper-se o tripé em que se apóia o sistema e ele desmorone, desaguando num regime de força, numa ditadura. No mais, a invasão perpetrada por mais de quinhentos membros desse tal MLST foi uma ação combinada, estudada, sem pauta de reivindicações. Uma ação revolucionária em plena democracia, o que é um atentado contra o Estado democrático.

O balanço dos fatos mostra a destruição de bens públicos, atacados com fúria pela multidão orientada e dominada por líderes de extrema esquerda, sob o comando de um dirigente do PT, o pernambucano Bruno Maranhão. Entre os bens destruídos estão terminais computadorizados de consulta pública, um automóvel que seria sorteado em festa junina dos funcionários da Câmara e um busto do ex-senador e ex-governador de São Paulo, o falecido Mário Covas.

O ataque à Câmara como ação de uma organização de sem-terras reivindicando a reforma agrária, se tivesse tal objetivo, deveria ter sido praticado do outro lado da Praça dos Três Poderes, atingindo a sede do Poder Executivo. Ou ainda a do Judiciário, pois é naqueles poderes que a reforma é entravada, seja pela falta ou retenção de verbas, seja pelos trâmites jurídicos indispensáveis para que a reforma se faça de forma justa, mesmo que urgente. O MLST não parece tenha colocado como objetivo arrancar de vez a reforma agrária. Atacava a democracia, as instituições e a reforma agrária desejada e necessária era mero pretexto.

Há poucos dias, o Brasil viu estarrecido o crime organizado atacar a sociedade, buscando principalmente atingir seus organismos policiais. Mataram muita gente no que foi, sem dúvida, uma guerra urbana. Agora, se assiste a um movimento movido por objetivos ideológicos antidemocráticos atacando um dos três poderes da República, ou seja, o próprio Estado democrático. Ao mesmo tempo, eclodem em todo o País greves e mais greves, muitas delas no serviço público e em prejuízo de aposentados, pensionistas e da massa assalariada. Ou da clientela da saúde pública, da indústria e comércio.

Não se há de imaginar que a bagunça em tantas frentes esteja ocorrendo de forma coordenada. E que não existam razões de descontentamento que sirvam de escusa para que tão lamentáveis fatos aconteçam. Mas é verdade indubitável que estamos caminhando para a anarquia, enquanto políticos cuidam da campanha eleitoral prematuramente iniciada. Se esta bagunça continuar, de que adianta pensar em eleições? Se seguirmos para o abismo da ditadura ou desordem, não será de se esperar um pleito que aconteça em ambiente que propicie a livre manifestação da vontade da Nação nas urnas. 

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