Gol adiado

O gol de placa que o ministro das Comunicações, Hélio Costa, antigo repórter internacional do Fantástico e atual senador pelas Minas Gerais, esmerou-se em dizer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcaria, ao optar pelo modelo japonês para a TV digital, não aconteceu porque o presidente se recusou a chutar a bola.

O Diário Oficial da União publicou decreto adiando para 10 de março próximo o anúncio da decisão do governo, e, no mínimo, colocando o ministro em situação desconfortável pelo açodamento demonstrado mediante surradas imagens futebolísticas de inteiro agrado do presidente.

Aliás, a realidade assume configuração assaz diferente, porquanto a segurança inabalável transmitida pelo ex-astro global gerou uma série de ressalvas no interior do próprio governo, sendo o artilheiro indicado para fazer o gol instruído a voltar ao vestiário e aguardar um mês para desferir o pelotaço.

Nesse ínterim, o ministro das Comunicações, antes tão apressado em selar a definição pelo modelo japonês, agora se esforça para dar a entender exatamente o contrário, que o assunto é delicado e por isso requer um pouco mais de tempo.

Há problemas de ordem tecnológica e comercial levantados pela iniciativa privada, além dos prazos para a definição do novo padrão, entraves que percorrem um longo círculo de interesses comerciais e industriais, como as emissoras de TV, as indústrias de televisores, as operadoras de telefonia celular e entidades da sociedade organizada.

O assunto não é tão simples como se imagina, tendo em vista que a opção tomada pelo governo decerto terá enorme repercussão no potencial do mercado de exportação da indústria nacional de televisores. Se o modelo japonês tem muitas vantagens, o europeu seria melhor indicado porque é usado em mais de 50 países.

O padrão norte-americano também está na disputa e não se poderá descartar o poder de pressão originário do extraordinário volume de negócios entre Brasil e Estados Unidos. A restrição fundamental, contudo, é sua utilização limitada aos Estados Unidos e Canadá. A Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) prefere o modelo nipônico pela qualidade tecnológica.

Ao fim e ao cabo, o desconforto teve origem no fato de o ministro Hélio Costa ter optado pelo modelo japonês em reuniões fechadas com os radiodifusores, desprezando os demais setores interessados. No Brasil, um pecado imperdoável.

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