Fortuna de iguais

O presidente Lula, já reeleito para mais um mandato, teve um encontro com empresários de alto coturno, em São Paulo, para uma dessas costumeiras premiações por melhor desempenho na produção, vendas, exportações e coisas afins. A festa foi bonita, regada a vinhos de excelente cepa e comida da melhor qualidade.

No discurso, que também é tradição, Lula não se fez de rogado e desfiou todos os truísmos de sua oratória peculiar, cada vez mais à vontade para falar aos ricos do país, como se estivesse em plano de igualdade com eles. Lula aprendeu depressa a lição. A certa altura, dirigindo-se ao banqueiro Roberto Setúbal, dono do Itaú, um dos maiores bancos brasileiros, afirmou em tom inteiramente coloquial, como se falasse a um parente: ?Roberto, prefiro os banqueiros tendo os lucros que vocês tiveram em meu governo, do que fazer um Proer para tirá-los das dificuldades?.

A declaração de Lula, como todas as demais, foi ouvida e interpretada de diferentes maneiras pelos circunstantes, já que há idiossincrasias e veleidades pessoais em jogo e apreciações sobre temas do gênero não necessariamente seguem o mesmo diapasão. Contudo, naquele momento e ambiente povoado por miliardários, a frase deve ter alcançado o nível máximo de aprovação.

Poucos dias depois soubemos, mesmo por raciocínio indireto, mas demasiado realista, onde o presidente encontrou inspiração para tratar Setúbal, Jorge Gerdau e outros magnatas do setor produtivo nacional com tamanha intimidade.

Os jornais noticiaram o lucro do Banco do Brasil nos primeiros nove meses do ano, recorde absoluto entre as principais instituições congêneres. O BB teve um lucro de R$ 4,8 bilhões, mesmo sofrendo no terceiro trimestre o recuo de 36,9% sobre o resultado do período igual em 2005. A explicação é que na ocasião o ganho estava inchado pelos créditos oriundos da Previ, fundo de pensão dos funcionários do estabelecimento.

Pois é. O presidente Lula falava a iguais. O BB, ao lado da Petrobras, jóia da coroa da máquina administrativa federal, ganhou tanto ou mais este ano que os grandes bancos brasileiros e isso é fermento para inflamar a vaidade do administrador mais morigerado. O que não é o caso de Lula. Somando os lucros do Bradesco, Itaú e Unibanco aos do BB, o setor faturou lucro líquido de R$ 11,29 bilhões. Tio Patinhas está exultante.

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