Flutuações do dólar

Busca-se fazer com que as flutuações do dólar influam no resultado da eleição. Há, de parte da oposição, a preocupação de fazer com que o eleitorado atribua as altas ao governo e, por isso, rejeite o candidato situacionista. Do outro lado, fazem a mesma coisa, insinuando que o culpado é o candidato da oposição, por não inspirar confiança no mercado. Paradoxalmente, uma coisa e outra são verdadeiras, seja qual for o lado em que a gente se coloque. Na oposição ou situação, estaremos chancelando apenas uma parte da verdade, que é bem mais complexa. O governo é responsável, em parte, pela alta do dólar, na medida em que o endividamento do País, público e privado, é muito elevado e estão vencendo títulos em grande volume e valor, levando os especuladores a empurrar o dólar para cima a fim de obter, em reais, o maior lucro possível em sua liquidação. Também responsável a oposição, na medida em que nega a evidência de que o mercado desconfia de seu candidato e, por isso, ou deixa de rolar dívidas que temos aqui e no exterior; interrompe ou diminui novos fluxos de dólares; senta-se em cima de seus ativos, para ver quem ganhará no segundo turno e o que fará nos primeiros meses do governo.

Assim, é melhor pararmos com esse uso abusivo das altas do dólar como instrumento eleitoral contra ou a favor deste ou daquele candidato e procurarmos um clima de tranqüilidade que, se não for capaz de resolver o problema, pelo menos não o agravará nesse interregno entre o momento presente e as definições da política econômica do novo governo.

Como medidas heróicas para debelar a febre, o BC tem feito o que pode. Se teria sido possível, ao governo, conduzir o País, nos últimos anos, de forma a que não chegássemos a esta difícil situação, é uma questão discutível e, de qualquer forma, inútil no momento, pois a atual administração está expirando.

Importante é manter o povo consciente da realidade, sem busca de culpados, e sim de quem, eleito no segundo turno, esteja apresentando caminhos que levem às soluções deste e de outros problemas que nos afligem.

O cidadão comum paga quase tudo mais caro em razão da alta do dólar. E é bobagem repetir, como alguns fazem, que ganhamos em reais e, portanto, nada deveríamos ter a ver com a alta da moeda norte-americana.

Com a alta do dólar, inflacionam-se os preços de muitos produtos e serviços que pagamos em reais. Eles sobem e, na maioria dos casos, isso é inevitável.

Um jornal de circulação nacional apresentou um exemplo impactante. Até os enterros ficam mais caros. A razão é que a madeira utilizada na confecção dos caixões de defunto subiu de preço. Por quê? Porque o Brasil exporta madeira, vendendo-a em dólares. Quem tem madeira vai preferir vendê-la em dólares no exterior, a menos que possa também ajustar os preços internos. Como exigir-lhe que deixe de exportar – aliás uma necessidade para o Brasil – se vendendo fora do País ganha mais? E convencê-lo de que venda mais barato aqui no Brasil. Talvez através de uma política de contingenciamento, como prega Serra, mas essa política ainda não existe.

Os exemplos mais marcantes são os do petróleo e o do trigo, que em parte são importados. Se os preços internacionais sobem, a alta das cotações do dólar eleva a gasolina, o óleo diesel, o gás de cozinha, o pão, o macarrão, etc. Qual dos candidatos sabe como resolver esses problemas?

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