Filme antigo

Esse filme nós já vimos, deve ser a conclusão momentânea dos proprietários de automóveis movidos a álcool hidratado, ou dos mais recentes e modernos carros dotados de motores flex, que funcionam com os dois combustíveis. A constatação deriva da elevação média de 6% do preço do álcool nos postos de abastecimento.

No ano passado, o aumento acumulado do álcool chegou a 28% e, agora, nos primeiros dias de janeiro houve essa majoração extemporânea e, para muitos, injustificada. Um dos setores que reclamou urgente explicação das autoridades foi a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis).

Na verdade, houve notável incremento do consumo de álcool hidratado no País com o lançamento dos carros bicombustíveis, que ingressam no mercado na base de 100 mil unidades mensais. O total fabricado até agora é de 1,3 milhão de carros.

Sem melhor argumento e demonstrando ter sido pego no contrapé, o governo limitou-se a informar que para manter o equilíbrio da oferta na entressafra, é viável reduzir a adição desse combustível à gasolina para 20%, ao invés dos 25% atuais. Em alguns estados cogita-se a redução da alíquota do ICMS.

Uma das razões alegadas para a alta do preço do álcool nas bombas estaria na hipotética diminuição da produção em 2006, tendo em vista a subida das cotações do açúcar no mercado internacional. Como em outras ocasiões, o produtor nacional passaria a produzir mais açúcar para aproveitar o preço, limitando a produção de álcool.

A safra brasileira de cana-de-açúcar em 2005/2006 atingiu 394,4 milhões de toneladas, das quais 178,4 milhões de toneladas foram utilizadas para produzir 17 bilhões de litros de álcool. O risco é a diminuição da oferta de álcool na entressafra que vai até abril, quando a nova safra começará a ser colhida.

Mais uma vez o consumidor está sendo prejudicado pela ausência de política pública de longo prazo que, no caso específico, seria útil tanto para prevenir quanto evitar anomalias dessa gravidade, minimizando seus impactos. Contudo, tal prerrogativa ainda não é fornecida aos brasileiros.

Em ciclos cada vez menores e mais enervantes, o consumidor é prejudicado por decisões imediatistas que desarrumam o cenário, embora na maioria das vezes sequer estejam amparadas por justificativas plausíveis e duradouras. Se o governo procrastinar na questão do álcool como o fez na recuperação das rodovias, a crise do abastecimento deverá ser longa.

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