FHC defende Lula

Quem tomou conhecimento dos últimos pronunciamentos do presidente Lula ouviu a mesma cantilena do homem pobre, filho de mãe analfabeta, operário e líder sindical que chegou à presidência da República. Uma história de heroísmo que não é falsa, mas que está se tornando repetitiva, mesmo porque se trata de peça única de um único ator. Nenhum outro brasileiro conseguiu tal façanha e nenhum compatriota há de negar que se trata de uma novela comovente. Também ouviu a repetição da promessa de que os traidores serão punidos, doa a quem doer, o presidente apontando para o lado da oposição, como se todos não soubessem que os ?traidores? surgiram no próprio PT. E a corrupção que se denuncia, e muitas vezes não se prova, multiplicou-se e cresceu como cogumelos no partido fundado pelo próprio Lula. E também naqueles que ele arregimentou, com ou sem mensalão, para o apoiarem.

Na cantilena raramente falta uma referência ao governo passado. Este é espinafrado de frente ou indiretamente, através de comparações de feitos nos campos econômico, político e social, usando-se estatísticas muitas vezes duvidosas, mas sempre impressionantes. FHC chega a ser citado nominalmente, como se fosse um inimigo pessoal de Lula, pois tem gente que esqueceu que os dois eram amigos e companheiros de luta contra a ditadura militar.

Falando ao jornal Clarín, de Buenos Aires, Fernando Henrique Cardoso disse que uma eventual renúncia do presidente Lula será péssima. ?Espero que Lula não renuncie. Isso seria péssimo para todos. A oposição está preocupada com a possibilidade de que se chegue a uma situação sem volta. Meu partido, o PSDB, nunca falou em processo político, pois sabemos o custo que pode ter uma ação dessa natureza?, disse o ex-presidente ao jornal argentino.

Tal entrevista foi concedida logo depois que Lula, em discurso de palanque, com cheiro de campanha eleitoral, afirmou que não se suicidaria como Getúlio, não renunciaria como Jânio, mas se comportaria com muita ?paciência?, como teria se comportado Juscelino Kubitschek. Pulou o ?processo político?, a que se referiu FHC, cuja tradução é ?impeachment?. Para FHC, ?o mais provável é que Lula chegue ao fim do seu mandato, mas o encerrará mal porque houve perda de confiança? depois de tantas denúncias de corrupção contra o governo. Lembra que ?a crise começou no PT e agora atinge o governo. Porém, o mais grave não é o presidente, pois esse se muda com eleições, mas o que vai acontecer com o PT, que integra o sistema político do Brasil?.

Lula pode ser um fenômeno passageiro na política brasileira e, se o é, todos lamentaremos, inclusive seu adversário FHC. Mas preocupa é ver o PT desmoronar. Nascedouro da corrupção, com renúncias sucedendo novas renúncias, perdendo a confiança até de seus membros, ainda se engolfa numa crise interna sucessória, para escolha de novos dirigentes. Isso é grave numa democracia como a nossa, pluripartidária, mas onde quase todas as agremiações políticas se parecem. O PT, este sim vinha com uma bandeira nova e, se desaparecer, voltaremos à mesmice política, sempre incapaz de resolver os graves problemas políticos, econômicos e sociais do País.

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