Fechamento de Congonhas

Após o trágico acidente com o Airbus da TAM, o Ministério Público Federal decidiu pedir à Justiça o fechamento do Aeroporto de Congonhas. A enérgica tomada de posição dos procuradores federais mostra que esse importante organismo de defesa da sociedade está atento. Mas também que é passível de erros e equívocos, pois há poucos dias, quando havia conseguido a interdição da pista principal de Congonhas em dias de chuva, acabou concordando com a suspensão da medida. Errar é humano. Persistir no erro é que seria imperdoável.

O fechamento do aeroporto pedido pelo MP não objetiva desativar Congonhas para sempre. O que pretende é a transferência de vôos para outros aeroportos paulistas -Cumbica (Guarulhos) e Viracopos (Campinas), até que se esclareça, através de uma investigação minuciosa, se a pista de pouso está em condições de continuar recebendo aviões de grande porte, como o que se espatifou nesta semana, matando duas centenas de pessoas.

Estremecida com as proporções do desastre, a sociedade brasileira externou perplexidade e revolta. As justificadas emoções criaram um ambiente pouco favorável à tomada de decisões. Nessas horas, pensamos em soluções cirúrgicas e não escapa o desejo de apontar culpados. Na medida em que as horas e os dias passam, a dor continua aflitiva, mas já permitindo a seleção de impressões e a diversificação de idéias para a solução do problema. O que ainda alimenta o fogo da revolta, entretanto, é a experiência de que no Brasil essas coisas sempre acabam no esquecimento e tudo fica na mesma.

Fechar Congonhas seria a solução ideal, mas improvável. Impossível. Trata-se do mais movimentado aeroporto do País, instalado no meio da maior cidade da América do Sul. É um dos respiradouros da economia nacional, local onde aportam pessoas que realizam a maioria dos negócios que sustentam a economia brasileira. Olhando pragmaticamente o problema, temos de concluir que o sonho de ver aquela área de pistas asfaltadas transformada em, por exemplo, um imenso parque verde oferecendo ar sem poluição à megalópole, é pura ficção. Infelizmente, o aeroporto vai continuar ali e o máximo que se poderá conseguir, aceitando sugestão do governador José Serra, seria reservar Congonhas para um número limitado de vôos, de preferência de aviões de menor porte. Os grandes aviões seriam destinados aos aeroportos de Guarulhos e Campinas. E poderia renascer a idéia de um trem-bala entre Campinas e a capital paulista e, quem sabe, também um meio de transporte rápido de Guarulhos ao centro de São Paulo, tornando a ampliação do uso desses aeroportos viável e capaz de atender aos interesses dos passageiros.

O que se deve evitar é deixar tudo como está. Como já se disse, a maior causa de mortalidade no setor aéreo brasileiro é um mal implacável chamado incompetência. A incompetência está sobejamente provada. Em dez meses já morreram quase quatrocentas pessoas em dois acidentes aéreos, o da Gol e o da TAM. Batemos um recorde mundial. E se a intenção de eventos como o pan era dar visibilidade a este gigante deitado em berço esplêndido, conseguimos.

Congonhas é um aeroporto congestionado e sua pista maior tem apenas 1.900 metros. Há mais de duas décadas os pilotos se queixam de suas condições desfavoráveis e, um dia depois do desastre da TAM, um outro avião da mesma companhia, procedente do Paraná, teve de arremeter por não conseguir pousar. Se não dá para encontrar uma solução definitiva, é hora de forçar medidas conseqüentes, por mais difíceis que sejam. Melhor fechar para balanço agora que esperar mais um pouco até que tudo pare por irrecorrível falência.

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