Expansão de lavouras pode agravar conflitos fundiários

A expansão das lavouras de cana-de-açúcar em São Paulo engrossa as fileiras dos sem-terra e pode agravar os conflitos fundiários no Estado. Grande parte da colheita ainda é feita manualmente e, com a escassez de mão-de-obra local, as usinas importam cortadores de outros Estados, principalmente do norte de Minas e do Nordeste. Como a safra dura de seis a sete meses, no restante do ano esse contingente fica desempregado. O aumento na mecanização da colheita contribuiu para deixar a mão-de-obra ociosa.

Os movimentos sociais de luta pela terra, principalmente o Movimento dos Sem-Terra (MST), já arregimentam essa massa de trabalhadores para engrossar seus acampamentos. Foi o que motivou o líder José Rainha Júnior a firmar parceria com sindicatos de empregados rurais ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) para atuar na questão agrária. Na primeira ação conjunta, na última semana, foram invadidas 14 fazendas no Pontal do Paranapanema e na Alta Paulista. ?Os usineiros têm de pensar nesse pessoal, senão vão gerar mão-de-obra para os acampamentos?, disse Rainha, sexta-feira (23), por telefone.

Só no Pontal e na Alta Paulista, segundo Rainha, são mais de 50 mil cortadores de cana. No Estado, somam 150 mil. Os acampamentos começam a brotar numa velocidade que nem o atuante líder do MST consegue acompanhar. ?Temos 15 nessa área e alguns eu nem conheço.

Mais da metade dos acampados trabalha nas usinas de açúcar e álcool da região, como Aparecido Martins de Oliveira, de 37 anos casado e pai de dois filhos. Cortador de cana na usina de Dracena, ele participou da invasão da Fazenda São Diogo, no distrito de Jaciporã, com o grupo de Rainha. Ele entrou para o MST na esperança de conseguir um lote da reforma agrária. ?Não quero cortar cana a vida toda?, diz.

Rainha garante que não precisa ?aliciar? essa mão-de-obra. ?O cara desempregado, com a família, vai para onde tiver lugar para ele.? O líder do MST diz que o meio rural ficou abandonado e algumas usinas fazem o trabalhador de escravo. ?Esse povo vê no movimento a única saída.?

Nos acampamentos, os sem-terra encontram, além da esperança de ter um lote, a garantia da comida diária: a cesta básica do governo. Cada família assentada recebe uma cesta distribuída pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Para Rainha, a situação no campo tende a se agravar. ?Cada vez as usinas importam mais mão-de-obra. Quando vierem as máquinas, o que vai acontecer com essa gente??.

O presidente do Sindicato dos Empregados Rurais Assalariados de Presidente Prudente e Região, Rubens Germano, um dos parceiros de Rainha, afirma que os trabalhadores dos canaviais são explorados. ?Só a fiscalização do Ministério Público do Trabalho aplicou R$ 3 milhões em multas no ano passado.? Ele explica que os sindicatos decidiram ?unificar a luta com o MST para chamar a atenção da sociedade?.

?O governo só vê a expansão da cana, mas quando o problema desse pessoal estourar, a situação já vai estar no fundo do poço?, alerta o secretário-geral da Federação dos Empregados Rurais e Assalariados do Estado (Feraesp), Aparecido Bispo.

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