Exército se isenta de papel em crise da FAB

Depois de levar um pito da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e uma reprimenda pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última reunião convocada pelo Palácio do Planalto para tratar da crise no setor aéreo, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Silva Bueno, desagradou agora seu colega do Exército, general Francisco Albuquerque. Ao tornar público o teor da carta a Albuquerque, agradecendo o apoio e a solidariedade manifestados na crise que o indispôs com o ministro da Defesa, Waldir Pires, o brigadeiro acabou se atritando também com o Comando do Exército, que não admite ser arrastado para a crise.

A carta, datada de 2 de novembro, foi publicada na página da Força Aérea Brasileira (FAB) na internet e retirada em seguida, na manhã de hoje, em razão da polêmica criada com o Exército. Na correspondência, os agradecimentos de Bueno a Albuquerque foram interpretados como insinuação de que o Exército tomara partido no embate da Aeronáutica com a Defesa e o Planalto, por conta do movimento dos controladores de vôo que paralisou aeroportos de todo o País. Oficiais do Exército avaliam que o brigadeiro foi "inábil" e dizem que não há porque estender uma crise do setor aéreo às Forças Armadas.

"Ele (Bueno) tenta transformar uma crise da Aeronáutica, que era só dele, em uma crise militar, que não existe", comentou um interlocutor de Albuquerque. De fato houve um telefonema do comandante do Exército ao seu colega da Aeronáutica, logo no início da crise. Outro oficial, no entanto, esclarece que foi apenas "uma manifestação de praxe" e protesta contra as insinuações contidas na carta. "O que não pode é especular, gerar polêmica que não existe por causa de um telefonema meramente protocolar e bem intencionado", reagiu. Segundo o oficial, o único objetivo do comandante do Exército no telefonema foi o de colocar a Força à disposição da FAB, para o que fosse necessário, a exemplo do que ocorreu no caso da queda do avião da Gol.

"Não queremos dizer que não temos nada com isto, caso seja necessário nosso apoio. O Exército é legalista e estamos sempre prontos a colaborar e fazer o que tem de ser feito", completou o oficial, informando ainda que, no mesmo dia do telefonema a Bueno, Albuquerque manteve o mesmo contato telefônico com o ministro Waldir Pires. Em ambos os casos, acrescenta, o objetivo da conversa foi um só: "Queríamos desejar sucesso na resolução da crise e mostrar nossa crença no que estava sendo feito, nos colocando à disposição caso tivessem necessidade de alguma ajuda. Nada além disso".

O que causou estranheza a militares do Exército foi o fato de o comandante da Aeronáutica ter recorrido ao agradecimento tardio à Força Terrestre, pelo apoio dado nas operações de resgate das vítimas do acidente com o Boeing da Gol, para justificar a carta tornada pública. Esperou para fazer isso, justamente quando sua situação política tornou-se delicada, arrastando o Exército para o centro da crise. Além de agradecer "as estimulantes palavras de apreço", o brigadeiro Bueno citou "adversidades por vezes impossíveis de serem previstas", para falar da crise atual.

Em sua correspondência a Albuquerque, ele disse que, nestes momentos, "torna-se natural fazer uso da crítica e do julgamento hostil, aproveitando-se para tirar vantagem de situações inusitadas, como forma de inverter um quadro, cuja origem esteja relacionada, com o próprio processo gerador da conjuntura". Em outro trecho, Bueno agradeceu a "manifestação de plena confiança na capacidade de a Aeronáutica restabelecer a normalidade no transporte aéreo nacional", o que lhe serve de "alento e estímulo para continuar acreditando que a devoção ao trabalho e o respeito à sociedade brasileira são os verdadeiros pilares que nos mantém unidos em torno do ideal de amor à Pátria e senso de cidadania".

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