Ex-secretária decide confirmar declarações a revista

Belo Horizonte (AE) – Depois de recuar na semana passada, em depoimento à Polícia Federal (PF), das declarações dadas à revista "IstoÉ Dinheiro", Fernanda Karina Ramos Somaggio ex-secretária do sócio das agências de publicidade SMPB Comunicação e DNA Propaganda, Marcos Valério Fernandes de Souza, quebrou o silêncio e decidiu hoje confirmar todas as informações contidas nas entrevistas. Por telefone, ela disse no início da noite que confirmará todas as declarações caso seja chamada a depor nas investigações sobre o suposto pagamento de mesadas a deputados da base aliada ao governo, em troca de apoio no Congresso.

Na esteira das denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) – que apontou Marcos Valério como o principal operador do esquema, batizado de "mensalão" -, Karina relatou encontros suspeitos do ex-patrão com dirigentes petistas, principalmente o tesoureiro Delúbio Soares e o secretário-geral do partido, Sílvio Pereira. Disse que Marcos Valério tinha uma comunicação direta com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e afirmou ainda que viu "saírem malas de dinheiro" da agência de publicidade. As quantias vultuosas seriam destinadas a políticos.

Karina disse que negou as acusações porque havia sido "coagida" e estava com muito "medo". "Na época em que eu fui na Polícia Federal, eu fui coagida. Eu estava morrendo de medo e aí acabou que eu não falei", justificou a secretária, que um dia após a divulgação das entrevistas prestou depoimento espontâneo na Superintendência da PF, em Belo Horizonte.

Segundo seu advogado, Rui Pimenta, no dia 14 – quanto as entrevistas foram veiculadas – Karina foi abordada na rua por uma pessoa em uma moto, que ameaçou seqüestrar a filha de 11 anos da secretária, caso ela confirmasse as declarações à "IstoÉ Dinheiro".

A secretária disse que decidiu confirmar a versão inicial por orientação do próprio advogado. Pimenta assumiu o caso na sexta-feira (17), substituindo Leandro Macedo Poli. "Hoje eu tenho um advogado para o qual eu contei tudo. Exatamente tudo que eu sabia e ele disse que eu não tinha motivo para mentir e nem para não deixar de falar", disse.

"Eu precisava de uma pessoa para me dar um norte. Eu estava perdida e meus advogados também".

Motivação

Karina, que se manteve reclusa desde a divulgação das entrevistas, afirmou que havia sido orientada a "não falar com ninguém". Hoje, depois de se reunir durante toda a tarde com Pimenta em sua casa, na zona norte da capital mineira, ela chegou a agradecer a ajuda da imprensa para "limpar toda essa sujeira".

A secretária disse que foi motivada a fazer as denúncias pela indignação com o que presenciava. "A gente vive num país onde 50% quase da população passa fome. Não é justo, eu não acho justo, eu nunca achei (justo) as pessoas roubarem o nosso dinheiro. É diferente de onde ele vem. O dinheiro é nosso, somos nós que pagamos. Sabe, eu acho que o brasileiro tem que aprender a cobrar", afirmou. "A gente paga muito (imposto) e não recebe nada em troca".

Processo – Marcos Valério está processando sua ex-secretária, por suposta tentativa de extorsão. Karina refutou a acusação: "Não tem nada verdadeiro. Eu nunca liguei para ninguém, eu nunca pedi nada para ninguém. Mesmo porque eu trabalho, eu sou digna, não preciso disso. Eu tenho a minha vida simples, mas é a minha vida e eu trabalho para isso. Eu não quero dinheiro nenhum", enfatizou.

Para ela, o processo foi uma forma que o ex-chefe encontrou para lhe "botar medo". "Acho que ele já imaginava que alguém iria falar uma hora".

Na sexta-feira, Karina foi acusada por Valério de "delito de furto qualificado, sob a modalidade do abuso da confiança". Na petição à 6ª Vara Criminal de Belo Horizonte – onde tramita o processo – o advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva solicitou que o juiz José Dalai Rocha requisite à PF cópias da agenda e do depoimento ("autenticada") prestado pela secretária.

Ele alega que um "documento estampado" (um fac-símile) na reportagem da "IstoÉ Dinheiro" a respeito do pagamento ao ex-ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, é "prova inconteste" do furto, pois teria sido "subtraído pela denunciada dos arquivos" da SMPB.

Karina disse nas entrevistas concedidas à revista que houve pagamento de R$ 150 mil para o ex-ministro. Pimenta da Veiga confirmou ter recebido quatro parcelas de R$ 75 mil da empresa por serviços advocatícios.

A secretária garantiu que o fato não teve influência na sua decisão de confirmar as declarações iniciais. "Essa acusação não vale de nada".

Ela ainda questionou o trâmite processo de extorsão, "em termos de Brasil, extremamente rápido". "Em menos de um mês já estava nas mãos do juiz".

Vida normal – Demonstrando tranqüilidade durante a conversa, Karina disse que está tentando retomar a sua vida normal. Desde a divulgação das entrevistas, ela não comparece à empresa Gesol Geologia e Sondagens, no bairro Olhos D’água, em Belo Horizonte, onde trabalha como secretária.

Karina vinha se mantendo reclusa em casa, junto com o marido e a filha. A menina, de acordo com ela, voltou hoje a freqüentar a escola. A secretária disse que durante esses dias contou com o apoio dos "amigos de verdade".

Publicitário diz que secretária se contradiz

Belo Horizonte (AE) – Em nota divulgada na noite de hoje (21), o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, por meio da assessoria, observou que as declarações feitas por sua ex-secretária, Fernanda Karina Ramos Somaggio, "diferem e, em essência, contradizem os depoimentos prestados por ela, em Belo Horizonte à Polícia Civil, em setembro do ano passado; à 6.ª Vara Criminal em 20 de maio último; e à Polícia Federal, no dia 15 deste mês".

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