Ex-assessora de PT diz que contas foram ?maquiadas?

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, a ex-assessora financeira da campanha à reeleição do prefeito de Londrina (PR), Nedson Micheletti (PT), Soraya Garcia, acusou hoje o PT de esconder no caixa dois mais de 80% dos recursos arrecadados na eleição de 2004. Soraya disse que, dos R$ 6,5 milhões que contabilizou, o partido declarou à Justiça Eleitoral apenas R$ 1,228 milhão. Ela não apresentou provas, mas a comissão informou ter informações de que o delegado da Polícia Federal (PF), Sandro Viana dos Santos, hoje afastado do caso, dispõe de notas coletadas numa operação de busca e apreensão que confirmariam irregularidades na campanha.

Como envolvidos no esquema, a ex-assessora apontou, além de petistas da cidade, nomes de peso no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República, Gilberto Carvalho, o ex-deputado José Dirceu (PT-SP) e o ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo. "Houve todo tipo de maquiagem possível", afirmou "Minha chefia me mandava cometer ilícitos diretos; estou aqui para dizer a verdade, doa ou não", afirmou. Depois de ser desqualificada pelos senadores Tião Viana (PT-AC) e Flávio Arns (PT-PR), a ex-assessora chorou ao falar da decepção com o PT, ao qual era filiada. "Eu filiei-me ao PT por paixão, acreditava mesmo no partido, achava que era o melhor partido do mundo", alegou.

Segundo ela, as maiores doações eram de fora de Londrina mas não tinha como identificá-las. A não ser os R$ 400 mil que disse terem sido enviados pela Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional. "Fora os 400 pilas que vieram de Itaipu, não sei de onde veio o dinheiro do caixa 2", afirmou.

Em nota, a assessoria da empresa rebateu a acusação: "Não passa de denuncismo vazio e inconseqüente, que visa tão somente satisfazer objetivos escusos." A Itaipu diz ainda que adotará medidas extrajudiciais ou judiciais para obter reparação pelos danos causados à imagem da empresa.

Soraya também acusou a multinacional Gtech de ter pago a locação de carros usados pelos petistas e, por sua vez, obtido vantagem com um evento bancado por dinheiro do caixa 2 da campanha.

A Gtech, também em nota, sustenta que as afirmações "são completamente inverídicas e infundadas, que nunca pagou nem recebeu "do partido. A ex-assessora financeira disse que o relacionamento com o ex-secretário de Finanças e Planejamento do PT Delúbio Soares ocorreu na campanha quando do recebimento de 20 mil camisetas, acondicionadas em caixas com a marca da agência de publicidade DNA Propaganda, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, tido como operador do esquema do "mensalão". Segundo ela, tinham sido fabricadas pela Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), da família do presidente em exercício e ministro da Defesa, José Alencar.

Soraya disse que as camisetas, vermelhas, com o nome de Micheletti, deveriam ser distribuídas no dia da eleição. "Eu comecei uma disputa para obter notas fiscais porque a Justiça Eleitoral tinha ido lá antes (no comitê) e eu tinha de explicar" contou. Soraya disse que, depois de ter falado várias vezes com a secretária de Delúbio, Solange, obteve, finalmente, uma nota fria, registrando 25 mil camisetas, 5 mil a mais do que o lote recebido.

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