Ex-assessor da Casa Civil admite que recebeu Marcos Valério

Brasília (AE) – O ex-assessor especial da Casa Civil Marcelo Sereno, negou hoje (23), em depoimento à CPI dos Bingos, que tratasse de quaisquer assuntos políticos enquanto estava no governo. Mas pouco depois admitiu que recebeu o empresário Marcos Valério – acusado de ser o operador do ‘mensalão’ – duas ou três vezes na Casa Civil para tratar de campanhas políticas. A contradição chamou a atenção dos senadores e Sereno chegou a dizer que saiu do governo, em maio de 2004, para ter mais liberdade para tratar das campanhas do PT.

Primeiro, Sereno – que admitiu ser homem de confiança do seu então chefe, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu – disse que nunca havia tratado de política na Casa Civil e sua função limitava-se a encaminhar para os ministérios e estatais os nomes indicados por partidos. Mas, ao ser perguntado se conhecia Marcos Valério, confirmou tê-lo recebido na Casa Civil. "Ele tinha – ou tem – uma empresa com a qual queria entrar na área de marketing político e nós conversamos sobre isso. Ele sabia da minha influência na política do Rio de Janeiro e queria entrar nesse mercado", contou. "De fato, ele terminou por fazer a campanha do PT em Petrópolis", informou, dando a entender que o contrato aconteceu por sua influência.

Ao responder à mesma pergunta pela segunda vez, Sereno admitiu também que "pode ter almoçado" com Marcos Valério. Ao falar sobre as conversas, disse que não se tratou de valores ou campanhas específicas, mas de conversas "genéricas sobre política". Sereno disse ainda que conheceu Marcos Valério no PT em São Paulo, em um café no mezanino da sede nacional do partido e que depois disso havia almoçado com o publicitário. Mas negou ter conhecimento de que Valério havia emprestado dinheiro para o PT. "Sabia dos empréstimos, mas na prestação de contas do partido eles apareciam em nome dos bancos. Nunca soube da participação de Marcos Valério", afirmou.

Sereno negou, também, que tivesse sido informado de algum esquema com casas de bingo no Rio de Janeiro, como foi acusado pelo ex-secretário nacional de segurança Luiz Eduardo Soares. Soares, em depoimento à CPI, disse que avisou Sereno – então secretário-executivo do governo de Benedita da Silva no Rio de Janeiro – que soube de um esquema em que Bingos repassavam R$ 300 mil mensais a Waldomiro Diniz, então presidente da Loterj no Rio e depois colega de Sereno como assessor especial da Casa Civil.

Sereno negou que Soares o tenha procurado com essa informação, assim como negou ter sido o arrecadador da campanha de do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Rio de Janeiro, como Soares afirmou. O ex-secretário de segurança disse que, na campanha de Benedita ao governo do Estado caberia a Waldomiro. Mas Sereno também nega ter tido qualquer contato mais freqüente com Waldomiro no Rio de Janeiro. "Não tive nenhuma relação com a Loterj, nem durante o governo de Benedita no Rio nem depois do governo Benedita. Nunca tive contato para tratar de qualquer assunto com o senhor Waldomiro. Me arrisco a dizer que talvez nunca tenha falado com Waldomiro durante aquele período", disse.

Os contatos mais freqüentes só teriam começado na Casa Civil. Sereno classificou Waldomiro de "o termômetro do governo no Congresso". "Era ele quem recebia e classificava as emendas parlamentares e quem reclamava que os acordos não estavam sendo cumpridos, que os ministros não estavam fazendo o combinado", disse.

O depoimento de Sereno durou pouco mais de três horas e deixou os senadores frustrados mais uma vez. Armado com um habeas corpus preventivo que o permitiu não assinar o compromisso de dizer a verdade, Sereno negou praticamente tudo que lhe foi perguntado. Em um determinado momento, quando foi explicar como comprou um apartamento de R$ 700 mil no Rio de Janeiro, um de seus advogados, Roberto Podval, tentou interromper o depoimento e quase foi retirado à força da sala da CPI. Os senadores reagiram com fúria à tentativa de interrupção – a lei diz que o depoente não pode consultar advogados ou receber instruções durante o depoimento. O senador Antonio Carlos Magalhães chegou a levantar e, de dedo em riste, mandar Podval "calar a boca".

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