Ética e compromisso

Em meio ao contexto natalino, quando é natural cultivar pensamentos superiores, pondo à parte a lida do cotidiano e afastando todas as reminiscências da pequenez humana, seria edificante refletir sobre algum assunto menos indigesto que a política rasteira, que, infelizmente, é praticada por grande parte dos que não sentem o menor remorso de serem tratados como homens públicos. Procuremos, entretanto, por alguns momentos, pensar num tema menos enfadonho.

 A linha de raciocínio a ser resumida, a seguir, se fundamenta no trabalho intelectual do teólogo contemporâneo, Hans Küng, nascido na Suíça, em 1928, e reconhecido como um dos mais importantes pensadores da atualidade. Küng é presidente da Fundação para a Ética Mundial, autor de inúmeros livros sobre o tema e respeitado conferencista internacional.

Com sua autoridade moral, há muitos anos Küng vem insistindo na pergunta: ?Que é que deve dominar a sociedade humana?? E ele mesmo argumenta que hoje é possível destacar um fato elementar: ?A economia não pode dominar tudo?.

 A afirmação, sobretudo, em tempos de globalização, a princípio parece destituída de senso, mas ao mesmo tempo suscita uma gama de questionamentos válidos. Um deles, segundo Küng, é se na esfera econômica o homem é livre para se comportar a seu bel prazer.

 Um dos alicerces da sociedade é a liberdade dos indivíduos, valor consubstanciado na visão clássica do homem como ser social que só pode atingir sua individualidade e identidade pessoal por meio da permanente interação e integração, sem a qual, adverte o teólogo, nem mesmo uma criança pequena poderia sequer aprender a falar e a se comportar como ser humano.

 Merece também avaliação percuciente uma assertiva que sintetiza a proposta ética e humanista de Hans Küng: ?A vida humana não consiste unicamente de economia, todo mundo sabe. Mas seria também necessário que de todas as maneiras isto fosse levado a sério na prática: a economia de mercado não é um fim em si mesmo, ela deve estar a serviço das necessidades dos homens e não tornar os homens totalmente dependentes da lógica do mercado?.

 Também o mercado mundial existe por causa do homem e não o contrário, sugere o pensador, concluindo que a economia deveria ser complemento da democracia sem jamais usurpar-lhe o lugar ou determinar-lhe a forma. Quando isso acontecer o Natal será ainda melhor.

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