Estudo aponta que soja transgênica interfere na fertilidade

Texto divulgado pela campanha "Por um Brasil Livre de Transgênicos" sobre estudos realizados por uma professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostra alterações na fertilidade de ratos relacionadas ao uso do herbicida glifosato. Veja a íntegra do texto.

"Em tempos de intensa discussão sobre a soja transgênica, causa muita preocupação o que descobriu a tese de doutorado "Toxicidade reprodutiva do herbicida glifosato-Roundup em ratos Wistar". A tese é de responsabilidade da bióloga, médica veterinária, especialista em toxicologia e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dra. Eliane Dallegrave.

A professora descobriu que o agrotóxico glifosato-Roundup, na formulação comercializada no Brasil – o herbicida mais utilizado no Brasil onde é comercializado em formulação contendo glifosato e polioxietilenamina e insumo indispensável para o cultivo da soja transgênica – induziu toxicidade reprodutiva em ratos Wistar em ensaios de fertilidade e performance reprodutiva e exposição pré e perinatal. Detectou-se também toxicidade sistêmica e reprodutiva masculina em ensaio de performance reprodutiva de machos e fêmeas adultos.

O insumo, indispensável ao cultivo da soja transgênica, conforme as descobertas da Dra. Dallegrave em sua tese "Toxicidade reprodutiva do herbicida glifosato-Roundup em ratos Wistar", não é tão inofensivo como apregoam os defensores da soja transgênica. A tese em questão é mais um alerta com relação aos riscos do uso massivo e indiscriminado desse tipo de agrotóxico.

Os principais efeitos sistêmicos que foram observados incluíram o aumento na massa relativa do fígado e rins e alterações histopatológicas no fígado e nos rins em todos os grupos tratados com o agrotóxico. As alterações reprodutivas incluíram a redução no número de espermatozóides, na produção diária de espermatozóides, aumento no percentual de espermatozóides anormais, redução dos níveis séricos de testosterona e alterações histológicas nos testículos, caracterizadas por congestão dos vasos, degeneração das espermátides e degeneração tubular.

Ainda, com base nessa tese de doutorado, a exposição pré e perinatal ao agrotóxico induziu efeitos reprodutivos somente nos machos das progênies expostas, em doses que não causam sinais de toxicidade materna. Os principais efeitos encontrados foram o aumento no percentual de espermatozóides anormais em puberdade e a redução da produção diária e do número de espermatozóides em idade adulta. Também, alterações histológicas testiculares caracterizadas por decréscimo no número de espermátozóides alongadas e pela presença de vacuolização celular em puberdade e por intensa degeneração tubular em idade adulta, revelando presença de distúrbios de desenvolvimento.

A partir dos resultados obtidos, com os três ensaios de toxicidade reprodutiva, concluiu-se que o agrotóxico glifosato-Roundup (formulação comercializada no Brasil) manifestou maior grau de toxicidade sistêmica, reprodutiva masculina e de desenvolvimento esquelético fetal, do que o referido para o glifosato grau técnico. E, frente à toxicidade reprodutiva masculina evidenciada, foi possível diagnosticar que o glifosato-Roundup é capaz de conferir efeitos de modulação endócrina e, conseqüentemente, manifestar potencial desregulador endócrino.

Os órgãos competentes, responsáveis pela avaliação toxicológica dos agrotóxicos quanto ao aspecto de saúde humana, diante dessa preocupante descoberta, estão tomando as devidas providências? Não! Pelo contrário. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou o aumento de 50 vezes o LMR (limite máximo residual) do glifosato na soja geneticamente modificada, de 0,2 mg/kg para 10 mg/kg. Com isso, a Anvisa está indiretamente também autorizando o aumento de resíduos dos metabólitos dos agrotóxicos à base do glifosato, muito mais tóxicos ao homem que o próprio glifosato, especialmente o ácico aminometilfosfônico (AMPA).

Isso significa um maior teor de resíduos do glifosato e dos seus metabólitos nos grãos de soja e nos alimentos consumidos pela população. O aumento do LMR do glifosato em 50 vezes significa se adequar a uma situação apenas favorável ao cultivo da soja transgênica, e que não trará benefício algum aos consumidores, quando se sabe que 60% dos alimentos industrializados contêm soja, inclusive aqueles destinados a crianças alérgicas à lactose e que se alimentam de fórmulas substitutas à base de soja.

Para obter o resumo do estudo "The teratogenic potential of the herbicide glyphosate-Roundup(R) in Wistar rats", DALLEGRAVE, Eliane, MANTESE, Fabiana Di Giorgio, COELHO, Ricardo Soares, PEREIRA, Janaína Drawanz, DALSENTER, Paulo Roberto, LANGELOH, A, Toxicology Letters, 30 April 2003, vol. 142, no. 1, pp. 45-52(8) acesse a página: http://www.mindfully.org/Pesticide/2003/Rounduo-Glyphosate-Teratogenic30qpr03.htm. 

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