Estratégia do pano rápido

A súbita estratégia dos operadores políticos do Planalto de mudar de posição e propor por intermédio do senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo do Senado, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) restrita ao âmbito da Casa, para investigar as denúncias de uso irregular dos cartões de crédito corporativo distribuídos pelo Ministério do Planejamento a ministros e altos funcionários administrativos, teve a clara intenção de esvaziar a iniciativa da oposição de formar uma comissão mista, ou seja, integrada por deputados e senadores.

Uma comissão mista tem obviamente maior representatividade porquanto atua em nome das duas instâncias congressuais, dificultando ao governo o controle da situação. Ocorre que o requerimento com o número regimental de assinaturas entregue pelo senador Romero Jucá à mesa continha adendos manuscritos, classificados pelo senador Heráclito Fortes (DEM-PI) como rasuras, evidência aceita pelo presidente Garibaldi Alves Filho, que devolveu o requerimento ao líder do governo.

Com isso, a oposição que insiste na comissão mista ganhou algumas horas para dinamizar a ação de vários deputados na coleta de assinaturas na Câmara (171), onde a dificuldade é grande devido à maioria governamental. No Senado, onde é necessário o número mínimo de 27 assinaturas, a oposição confia obtê-las até depois de amanhã a fim de viabilizar a implantação da CPMI, à vista do equilíbrio entre sua bancada e a base governista.

O recurso aceito pelo governo foi estender a investigação dos gastos com os cartões a 2001, quando foram instituídos pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. No mínimo, a regressão das investigações ao período de FHC trará inegável constrangimento ao senador Romero Jucá, que à época também exerceu a liderança do bloco governista na Casa.

O ministro Tarso Genro, da Justiça, afirmou que a imprensa é responsável pela criação de um ?falso escândalo? sobre o uso dos cartões corporativos, embora não tenha conseguido encontrar justificativa para o fato dos jornais terem se limitado a divulgar informações obtidas na internet. E, mais, todos os informes publicados estavam disponíveis no que se chama em linguagem figurada, ao que parece pela reação intempestiva do governo, de Portal da Transparência.

Presumem os mortais comuns que se alguma coisa possui a condição de transparência, é, no mínimo, indecente o esforço último do governo na ocultação do que ele mesmo tomou a iniciativa de divulgar. Pano rápido.

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