Estoques altos podem ter prejudicado produção industrial

Brasília – Os estoques do setor industrial continuaram elevados no final do primeiro trimestre do ano, o que ainda pode ter refreado o resultado da produção industrial de abril, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A expectativa era de que o processo de redução de estoques, iniciado no final do ano passado, tivesse terminado em março, possibilitando a retomada da produção em um ritmo mais forte em abril. Mas a última Sondagem Industrial realizada pela CNI mostra que o crescimento ainda não ocorreu de forma generalizada já que os estoques ainda estão acima do planejado pelas empresas.

"Ainda devemos sentir em abril os reflexos do ajuste de estoques", disse Paulo Mol, economista da entidade, ao divulgar a pesquisa relativa ao desempenho da indústria no primeiro trimestre. "Mas como já houve um recuo expressivo do nível dos estoques, eles não devem ser um limitador tão grande do crescimento da produção no segundo trimestre do ano", ressaltou. A sondagem mostra uma discrepância nos resultados das grandes empresas e das pequenas e médias empresas. "Como as grandes empresas têm um peso maior nas estatísticas de produção e venda da indústria, não se percebem as dificuldades enfrentadas pelas pequenas e médias", disse o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.

A pesquisa constatou que os grandes grupos estão em um processo de reaquecimento da atividade produtiva, com leve aumento da produção no início de 2006, enquanto que as de menor porte registram queda na produção e no faturamento. "É comum perda de produtividade no primeiro trimestre porque sucede um momento de pico na produção que acontece sempre no quarto trimestre do ano, mas nas grandes empresas isso não ocorreu. Elas continuam estáveis e apontam para o crescimento da produção", disse Mol.

O economista, no entanto, acredita que as pequenas e médias empresas devem mostrar recuperação nos próximos meses puxadas pelo aumento da demanda interna. "A surpresa são as grandes empresas que não ficaram dentro do quadro esperado, que era de queda em relação ao quarto trimestre de 2005", disse. Como reflexo do desempenho das pequenas e médias empresas, os indicadores globais de produção e faturamento mostraram recuo no primeiro trimestre do ano em relação ao quarto trimestre do ano passado.

O nível de utilização da capacidade instalada reduziu-se de 75% para 71% neste mesmo período. Embora seja normal a queda, Mol destacou que nas grandes empresas houve maturação de investimentos, o que levou ao aumento da produção com redução do índice de uso do parque fabril. Entre os setores que apresentaram aumento na produção no primeiro trimestre estão o de refino de petróleo, veículos e outros equipamentos de transporte. O setor alcooleiro chamou a atenção por estar entre os setores que apresentaram aumento no faturamento, embora figure na lista dos que tiveram queda na produção no primeiro trimestre.

Castelo Branco disse que a discrepância é explicada pelo período de entressafra da cana e pelos preços favoráveis do álcool no mercado interno e externo. A sondagem mostra ainda que a expectativa em relação ao desempenho das empresas para os próximos seis meses não apresentou mudança significativa em relação à pesquisa anterior, divulgada em janeiro. Os empresários industriais esperam um crescimento do faturamento e das compras de matérias-primas mas aguardam queda nas exportações. A pesquisa mostra ainda que a indústria espera manter estável o número de empregados nos próximos seis meses.

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