Especialistas esperam crescimento menor da produção industrial em julho

Passada a euforia com os bons números da produção industrial de junho, divulgados no final da semana passada, as expectativas para os resultados de julho são "um pouco nebulosas" e apontam para uma nova acomodação, segundo avalia o diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sérgio Gomes de Almeida.

O principal argumento é que o crescimento do setor está "muito concentrado" em automóveis e celulares e, no caso do setor automobilístico, os dados antecedentes de julho divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que apontam queda de 6,3% na produção de veículos em julho ante junho, mostram uma desaceleração.

Além disso, para Gomes de Almeida, os indicadores de julho poderão mostrar algum efeito da crise política sobre a produção industrial.

"Julho não deve repetir os bons números dos últimos dois meses (maio e junho), pode vir a ser uma nova acomodação", disse.

O economista Estevão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), concorda que deverá ocorrer uma perda de ritmo do crescimento em julho, mas não compartilha da tese de concentração do crescimento. Para ele, a hegemonia dos bens duráveis (automóveis, eletroeletrônicos) na expansão não significa que os outros setores não estejam crescendo. "É uma característica do crescimento, mas não vejo como um problema", disse.

Kopschitz avalia ainda que a desaceleração do crescimento do setor esperada para julho "não significará uma reversão de tendência".

Segundo ele, os dados antecedentes de julho ainda são insuficientes para uma projeção para o desempenho da indústria no mês, mas já se sabe que houve efetiva desaceleração no segmento de automóveis e no consumo de energia elétrica. Para concluir uma estimativa para o mês, serão necessárias informações sobre os segmentos de aço e papelão, que ainda não foram divulgadas.

Acomodação – O diretor-executivo do Ipea está menos confiante na continuidade do fôlego industrial e afirmou que no acumulado de maio e junho, a produção da indústria cresceu 3% ante abril e, sobretudo em junho, essa reação esteve exclusivamente vinculada ao crédito que impulsionou o consumo de duráveis.

Para Gomes de Almeida, as exportações permanecem durante todo este ano como fator de dinamismo da produção, mas o "pulo" de crescimento que ocorreu em maio e junho foi dado pelo crédito especialmente pela ampliação dos prazos de financiamento nas grandes redes de varejo.

Gomes de Almeida considera "preocupante" que o crescimento da indústria esteja "deixando de lado" os segmentos de bens semi e não-duráveis, como vestuário e calçados, que dependem do rendimento da população e são intensivos em mão-de-obra.

Segundo o IBGE, em junho a produção de calçados, por exemplo, caiu 2,4% ante igual mês do ano passado. "Não vejo sustentação nessa recuperação de maio e junho, é um fenômeno do crédito", avalia.

Apesar disso, Gomes de Almeida sublinhou que não há previsão de nenhuma "catástrofe" para julho, mas apenas uma nova passagem de cenário de reação industrial para acomodação. "Até junho os indicadores da indústria não foram afetados pela política, mas se as expectativas dos empresários e consumidores foram realmente afetadas como mostraram as sondagens, há possibilidade de efeitos nos dados de julho", disse.

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