Escândalos feitos em estúdio

Na onda dos reality shows e dos programas “jornalísticos” de gosto duvidoso, o escândalo da matéria fabricada é mais um triste capítulo na trajetória da televisão brasileira. Se informação e entretenimento são as premissas básicas de um meio de comunicação, há tempos, no Brasil, confundem-se as duas vertentes. A guerra pela audiência também faz vítimas: os pobres telespectadores.

Com uma maquiagem a mais ou a menos, as emissoras têm hoje um perfil similar. Nivelado por baixo. É um programinha voltado para o público feminino pela manhã, seguido de outro dedicado às crianças (repleto de material “indispensável” para a educação)… e por aí vai. Talvez sinal dos tempos e do crescimento das tevês por assinatura, que controlam a audiência em seriados (antigamente rotulados de “enlatados americanos”) e filmes.

Nessa entressafra dos reality shows (alguém sente falta?), somos brindados, agora, com uma suposta matéria “bombástica”. Confesso que não presenciei o furo de reportagem, com as ameaças dos encapuzados, pois o programa em questão não consta de minha agenda dominical. Mas a repercussão do mesmo foi tragicômica. Bravatas daqui e dali, recadinhos, desculpas… Melancólico. Se a aposta é garantir audiência entre aqueles que ainda se divertem com as “pegadinhas”, o caminho é esse. Só falta dizerem que tudo não passou de um “telegrama divertido”, que saiu pela culatra.

Não sou daqueles que defendem a obrigatoriedade de uma programação exclusivamente educativa e cultural. Fã de filmes e seriados (de sci-fi a suspenses bem elaborados, sem dispensar um “bom” terror podreira), vejo a padronização das emissoras nacionais como um desprezo à criatividade brasileira. Se, às sextas-feiras, somos agraciados com um show de diálogos hilariantes em “Os Normais” (que caminha para seus últimos episódios) temos na outra ponta (Des) Carga Pesada, num sinal claro da crise de novas idéias.

Essa crise talvez seja a origem para deslizes como a matéria forjada com os “integrantes do crime organizado”. Houve “criatividade” em excesso e deu no que deu. É o “vale tudo” ganhando cada vez mais espaço nessa briga por alguns pontos no ibope. Daqui a pouco, vão inventar um BB onde os participantes serão traficantes e mafiosos. Imagine só o apresentador abrindo a transmissão com o Beira-Mar do outro lado da telinha: “Vamos ver como está o nosso herói hoje…”. Para se entreter um telespectador, a criatividade é o melhor caminho.

Será que não temos roteiristas pedindo passagem com bons textos e idéias originais? Enquanto isso, lá vem a mesma ladainha: “Atenção: grande congestionamento em São Paulo… A Marginal Tietê está interrompida…”, assuntos relevantes para a tarde dos paranaenses, mineiros, gaúchos. À noite, chegam as “discussões” de temas polêmicos na telinha: tenha a mente aberta, não discrimine as pessoas por suas opções sexuais… Cuidem dos seus velhinhos… Tudo bem, na guerra pela audiência, a melhor arma é o controle remoto. Nada que um bom DVD na estante não resolva.

Irapitan Costa

(irapitancosta@uol.com.br) é repórter de Esportes em O Estado.

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