Equipe de produção se empenha para atender pedidos das trupes

Uma mala de dólares falsos?! Já viraram folclore as estapafúrdias exigências de astros internacionais em festival de música. Será que o mesmo ocorre com atores e diretores teatrais? Para conferir, a reportagem foi até o QG da produção do Festival Internacional de Londrina, onde Nádia Val comanda uma simpática equipe de 14 pessoas.

Diante de um computador, ela escaneia dólares a pedido da companhia argentina El Patrón Vazquez que apresenta amanhã e sexta no CCBB de Brasília e a partir do dia 16 em Londrina, o espetáculo La Estupidez. "Mesmo para o palco, existem normas para falsificar dólares", explica Nádia. "As notas tem de ser 30% maiores ou menores do que as originais e cada uma delas precisa trazer a palavra falso."

Entre as três grandes mesas da sala de produção, destaca-se uma grande lousa com muitas anotações a giz: flores para camarim e arame recozido. Ao telefone, um dos garotos da equipe fala: "14 tubos de PVC ¾, três torneiras de ¾, um T…" O que vem a ser um arame recozido? "Ele tem uma espécie de capinha de proteção." Para que serve? "Não tenho a menor idéia" , diz Nádia. "Desde que começamos a pré-produção, em março, já comprei muita coisa cuja utilidade exata eu desconheço."

Não é fácil entrevistá-la. As interrupções são constantes. Alguém quer saber onde encontrar divisórias de fila, dessas usadas em banco. "O espetáculo resultante da oficina de interpretação com os cegos se passa numa fila", esclarece. Na conversa, fica claro que as exigências pessoais, de conforto ou estrelismo, praticamente inexistem.

"Os alemães, por exemplo, pediram gentilmente se seria possível ter flores no camarim." O que se pede, em 90% dos casos serve unicamente à arte. "Há histórias engraçadas como a dos abacates do grupo mineiro Espanca!", lembra Nádia. Quem viu o espetáculo Por Elise, já apresentado em São Paulo, sabe que nessa montagem ‘chove’ abacate no palco. "Pois é, mas no material de pré-produção, eles escreveram sobre a necessidade de nove abacates. Fiquei cheia de dúvidas. Seriam abacates cenográficos? Seriam para comer? Nove por sessão ou nove por temporada? Maduros, verdes, grandes, pequenos? Resolvi telefonar para eles, que riram muito. Explicaram que eles mesmo comprariam imagine, só queriam saber se era fácil encontrar aqui."

Um outro pedido – uma cabeça de cervo empalhada – também do grupo argentino El Patrón Vazquez, ainda queima as pestanas da equipe. "Do jeito que veio escrito, essa seria uma tradução aproximada. Será que eles precisam mesmo dessa cabeça? Ou são argentinos tirando sarro de brasileiros?"

A equipe resolveu assistir ao vídeo do espetáculo antes de perguntar: três horas e 20 minutos de peça e nada de aparecer cervo empalhado. "Ainda estamos na dúvida, mas se for necessário mesmo, a gente arruma."

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