Quem compra leite com freqüência já deve ter percebido o aumento no preço do produto nas prateleiras dos supermercados. No Paraná, segundo levantamento da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), o litro do leite longa vida custava, em média, R$ 1,44 na semana passada – valor 11,40% maior do que a média da semana anterior. Entre os municípios pesquisados, Cornélio Procópio foi o que apresentou o maior preço médio (R$ 1,63 o litro), seguido de perto por Cascavel (R$ 1,59). O aumento do preço do leite está relacionado ao período de entressafra, que segue até julho.
?É um período em que diminui a pastagem por causa da seca?, explicou a engenheira agrônoma Maria Sílvia Digiovani, da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). Segundo ela, no Paraná a produção do leite não chega a ter queda significativa nesta época do ano, mas como o preço pago ao produtor segue os preços do atacado em nível nacional, a tendência é de alta. ?O Paraná tem possibilidade de aplicar a pastagem de inverno, com o uso de ração, e a produção de leite pode até aumentar. Mas o preço sobe conforme a valorização dos derivados no atacado?, explicou.
No Paraná é o Conseleite quem acaba servindo como parâmetro quando o assunto é o preço a ser negociado entre a indústria e o produtor. Ao todo, 14 derivados do leite são considerados – iogurte, leite em pó, queijo – para definir a variação de preço da matéria-prima. ?Se a indústria vende esses produtos por um preço maior, pode repassar esse aumento para o produtor. Mas se esse preço cai, o valor pago ao produtor também reduz?, explicou.
No Paraná, o preço do litro do leite padrão em março sugerido pelo Conseleite era R$ 0,4473. Para abril, a projeção é de R$ 0,4876 – ou seja, aumento de quase 10%. ?Os preços em outros mercados acabam influenciando muito?, destacou Maria Sílvia. Ela lembrou ainda que a indústria de laticínios prefere investir na produção de derivados – que contam com maior valor agregado – ao leite ?in natura?. ?A produção de derivados como queijo e iogurte é mais vantajosa para a indústria. No caso do leite longa vida, o custo é alto em função da embalagem?, destacou.
Concorrência
A concorrência do setor também é forte. De acordo com Maria Sílvia, grande parte do leite longa vida comercializado no Paraná vem de outros estados, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul. ?O Paraná tem muitas indústrias, mas elas encontram dificuldades em colocar o produtos nas prateleiras. O leite que vem de fora tem preço menor?, comentou, acrescentando que o ?o jogo do ICMS? acaba levando o Paraná a mandar leite para São Paulo e Rio de Janeiro.
O Estado é o terceiro maior produtor de leite (aproximadamente 2,5 bilhões de litros/ano), atrás de Goiás (2,65 bilhões) e Minas Gerais (6,91 bilhões), respondendo por 10% da produção nacional. O rebanho paranaense de gado leiteiro é formado por aproximadamente 2 milhões de animais e o número de produtores chega a quase 100 mil.
Aumento já chega a 20% este ano
Conforme o Disque-Economia, serviço disponibilizado pela Prefeitura de Curitiba, o preço do leite longa vida integral subiu 20,69% desde o início do ano na capital. Em janeiro, o litro mais barato custava R$ 1,16; já na última quinta-feira, o menor preço praticado pelos supermercados de Curitiba era R$ 1,40.
No caso do leite longa vida desnatado, a diferença também é grande: de 19,83%, com o litro passando de R$ 1,16 no início do ano para R$ 1,39 esta semana. Já o leite tipo C foi o que sofreu menor aumento: o litro passou de R$ 0,97 para R$ 1,04 em quase quatro meses.
No ano passado, o aumento do preço do litro do leite foi ainda maior: de 23,15% no caso do longa vida integral e 21,10% no desnatado. Na comparação entre os preços dessa semana e o mesmo período do ano passado, o longa vida integral ficou 5,26% mais caro (passou de R$ 1,33 para R$ 1,40) e o desnatado subiu 5,30% – o litro passou de R$ 1,32 para R$ 1,39. Já o preço do leite tipo C caiu 0,95% – era R$ 1,04 um ano atrás e agora, R$ 1,05.