Ensino técnico, a saída

O censo escolar de 2000 descobriu a pólvora: apesar de as taxas gerais de aprovação estarem melhorando nos últimos anos, além da desistência bem maior, no período noturno há mais repetência que no diurno. A faixa etária da população estudantil noturna é maior que os que têm tempo e felicidade de chegar na escola com o raiar do sol.

Preocupado com esses índices – e um pouco atrasado já – , o governo começa a discutir uma saída para melhorar o perfil da educação básica, que soma o ensino fundamental ao médio. Uma das medidas em andamento está contida no chamado programa Escola Jovem. A diretora de Ensino Médio do Ministério da Educação, Maria Beatriz Gomes da Silva, acha que as reformas em andamento vão melhorar as condições de ensino desses estudantes. Da reforma faz parte, além de investimentos em infra-estrutura, uma mudança curricular. “Os novos currículos – explica ela – devem priorizar a contextualização e a interdisciplinaridade. Assim, as aulas ficam mais próximas da realidade dos alunos.”

O diagnóstico vislumbrado pela autoridade educacional do País, entretanto, não está completo. Desde 1996, o número de matrículas no ensino médio cresceu 46,7%, segundo dados disponíveis. Isso mostra uma revolução: o aluno que tinha parado de estudar voltou para a escola pressionado pelo mercado de trabalho, cada dia mais exigente em termos de qualificação. Ao voltar para os bancos escolares, entretanto, esse aluno, já com idade maior que a média, enfrenta outras decepções e a primeira delas, com certeza, é o despreparo dos professores, que acentua o descompasso entre a escola da vida e a escola teórica. É público e notório que o ensino em período noturno é sempre mais precário, tem menor número de aulas e nele também os professores dobram a jornada. Daí para a sensação de perda de tempo para quem já vai para a escola com dificuldade – e aqui não se está falando de escola paga – é um pulo.

Temos para nós que as medidas anunciadas pelo governo para estancar o mal (afinal, 72,3% das desistências do ensino médio ocorrem exatamente no período noturno) deixam de contemplar o cerne da questão, que está na falta de incentivo e estruturação de um programa de ensino técnico para valer no Brasil. Está provado que as poucas escolas técnicas que sobreviveram até aqui conseguem manter-se imunes a esse avassalador desastre em que se transformou o ensino em todos os níveis. Aprender um ofício é ainda, sem dúvida, uma das principais preocupações de todo jovem. As especificidades do aluno de período noturno, já maioria, exigem políticas também específicas. Esta seria, a nosso ver, a principal lição do censo escolar que o governo até aqui não quis ver.

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