Ensino gratuito?

Tarso Genro substituiu Cristovam Buarque no comando do Ministério da Educação. Este caiu na desgraça por reclamar mais recursos para a Educação, carência que todos sabem que existe. Mas desagrada ao presidente e à equipe econômica que lhes peçam dinheiro, pois a política do atual governo, desde que teve início, a quase quatorze meses, é entesourar e ir pagando os juros da dívida nacional.

Genro foi mais esperto, pois apresentou um projeto de inclusão nas faculdades particulares dos carentes, afro-descendentes, indígenas e egressos de penitenciárias em fase de recuperação, ocupando as vagas ociosas, que são desde já cerca de cem mil.

Calcula-se, para o ano que vem, quatrocentos mil.

Nada falou sobre dinheiro, pagamento desses cursos para carentes e brasileiros que precisam ser inseridos no sistema de ensino e não encontram vagas nas faculdades públicas gratuitas.

Genro merece aplausos, mas não dá para esconder que haverá um problema de financiamento desse ensino gratuito oferecido aos que precisam e merecem e não têm acesso às escolas superiores públicas gratuitas por falta de vagas.

É uma ilusão aquela velha idéia do custo-zero. Nada custa zero. Zero pode ser o preço, mas tudo custa alguma coisa e alguém tem de pagar. Sempre o contribuinte.
As faculdades particulares pagam imóveis, sua manutenção, funcionários, professores, instrumentos e material de pesquisas e daí por diante. Tudo custa dinheiro. No mais, precisam desenvolver-se, o que exige novos investimentos.

Imaginar que carteiras vazias, uma vez cedidas aos carentes, não gerarão novas despesas, é utopia. Um aluno carente, mesmo que receba matrícula numa faculdade que tem vagas ociosas, gera um custo.

Alguém terá de pagar essa conta e isso já está sendo levantado, principalmente pelos dirigentes de escolas particulares, enquanto Genro não explicita de onde sairá o dinheiro.

Há outro problema que é igualmente aflitivo, além da falta de vagas em escolas públicas para carentes. Mesmo nas escolas públicas gratuitas, muitos carentes que conseguem vagas passando no vestibular acabam não conseguindo prosseguir em seus estudos, porque não têm como se sustentar. Têm de largar os bancos universitários para procurar trabalho para sobreviver. Não têm como adquirir livros e outros materiais de ensino. Muitas vezes, não têm sequer o dinheiro para pagar o ônibus que os leva à faculdade.

O financiamento para os carentes que forem para escolas particulares ou as bolsas de estudo serão, por certo, alguns dos caminhos a ser examinados. Insanidade será insistir no custo-zero, pois aí quem será defenestrado não será o ministro, como aconteceu com Cristovam Buarque, mas os próprios alunos que se deseja ajudar. Tudo não passará de uma boa idéia, porém inexeqüível.

Enquanto isto, continua o tabu da gratuidade do ensino nas escolas públicas, onde estudam, em maioria, jovens que provêm de famílias de classe média alta e até ricas. Gente que poderia pagar para que o dinheiro fosse destinado a custear os estudos de quem é pobre. Nas escolas públicas ou particulares, não importa. Enfim, onde existam vagas, e vagas existem em grande número nas escolas privadas.

É um contra-senso o que acontece no Brasil. Estudam de graça os que podem pagar, ocupando os lugares que deveriam ser, com prioridade, dos carentes. O povo paga os estudos desses jovens que, muitas vezes, de canudo na mão, sequer exercem as profissões de nível superior que adquiriram.

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