Enganos imperdoáveis

A tragédia ocorreu em Balsa Nova, Região Metropolitana de Curitiba. Perseguido por um carro não identificado, o funcionário público João Mochinski, 50 anos, foi morto a tiros. Quem matou? Os policiais, que imaginaram que Mochinski seria um perigoso traficante com 140 quilos de maconha – este, o verdadeiro alvo da operação da Polícia Civil. O engano imperdoável foi o triste desfecho de uma história que tinha tudo, desde o início, para dar errado.

Compreendem-se os motivos da polícia. Não se pode atuar ostensivamente na busca de bandidos de alta periculosidade. Estes, principalmente os traficantes, têm bons informantes em todos os lugares, e conseguem escapar de situações planejadas pelo poder público. Por isso, são inevitáveis as operações ?camufladas?. Cada vez mais elas farão parte do cotidiano.

É como a imprensa, que precisa às vezes investigar fatos com as câmeras ocultas, aquelas de menor porte. Fotos e imagens são produzidas na surdina, para captar irregularidades em tempo real. E os repórteres que fazem o trabalho pesado nestas matérias nunca aparecem, justamente para evitar que sejam reconhecidos e, por conta disso, a atuação seja atrapalhada. Não pode a mídia simplesmente condenar os policiais por estarem disfarçados -fazemos da mesma maneira.

Mas, em uma situação como esta, a polícia precisa estar preparada. Pelos motivos citados acima, a população está temerosa. Não sabe em quem confiar – as notícias de envolvimento de figuras importantes com o banditismo e o tráfico não param de surgir na imprensa. Ao ver um carro em alta velocidade a segui-lo, João Mochinski reagiu como todos nós reagiríamos: tentou escapar do que imaginava ser um assalto.

Esta triste notícia não tem recuperação. A família do funcionário público, a cidade de Balsa Nova, a corporação policial não serão mais as mesmas depois do dia 18 de junho. Para quem tem a arma e o poder na mão, é fundamental refletir sobre o que aconteceu.

A situação da segurança é grave, mas não vivemos uma guerra, onde as perdas são relevadas.

Voltar ao topo