Enfim, o desembarque

A nação já está acostumada, se bem que não conformada. No governo tudo anda devagar, quase parando. As decisões que a opinião pública e as circunstâncias exigem que sejam tomadas com urgência fluem a conta-gotas. Mas, afinal, caiu o ministro da Defesa, por falta de ataque. Waldir Pires é um homem que parece que nunca se abala. É manso, quase terno. E não agiu prontamente diante da crise aérea, embora no topo da pirâmide das autoridades estivesse sentado em berço esplêndido. Verdade que até agora a subordinação das forças armadas a um ministro civil da Defesa seja uma conquista no papel, de fato ainda não foi bem digerida. Pode ser que sua inação diante do caos aéreo e das tragédias, como a do avião da Gol e agora o da TAM, mais se deva à falta de autoridade efetiva do que de vontade. Nelson Jobim assume o lugar de Waldir Pires. Ex-parlamentar, ex-ministro da Justiça, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ex-candidato à presidência do PMDB, é um homem grande. Oxalá seja também um grande homem.

Parece que a opção de Lula foi a de levar para o posto de ministro da Defesa um homem de ataque. A justificativa para a sua escolha é o seu perfil. Ele é tido e havido como enérgico, comandante por vocação e isso provou quando estava por disputar a presidência do PMDB e jogou sua candidatura pela janela quando sentiu que a maioria dos seus correligionários preferia a reeleição de Michel Temer, por razões fisiológicas. Então, Jobim ficava de um lado e Lula do outro, com a turma fisiológica. Jobim foi homem do governo FHC.

Tem estatura física e política para o cargo que acaba de assumir. Será capaz de coordenar a balbúrdia do problema aéreo. Resta saber se entende alguma coisa do riscado. Ao que se saiba, em matéria de aviões, foi só passageiro. Mas, quando se vê na cúpula nos próprios órgãos que dirigem o setor gente que também não entende nada, chega-se a pensar que a nomeação de Jobim, no que toca à sua posição diante dos órgãos que comandam a aviação, pode dar certo. Basta que seja capaz de cercar-se de assessores competentes e procure impor sua autoridade, coisa que Waldir Pires não fazia por ocupar de forma tísica a posição.

Não serão poucos os desafios de Nelson Jobim. Para começo de conversa, terá de reconstruir a escala de comando do setor aéreo, que, sob Pires, nunca se aprumou. Motivos foram muitos, dentre eles politicagem na Anac, cheiro de corrupção na Infraero e relações não muito claras entre Lula e a Aeronáutica, que, por mais de uma vez, sentiu-se desautorizada pelo presidente. Problema sério também é o das empresas aéreas, que nos episódios que resultaram no caos aéreo e nas trágicas quedas dos aviões da Gol e da TAM não aceitaram nenhuma parcela de culpa. E não foram capazes sequer de acalmar o público dando-lhe, senão satisfações, pelo menos explicações plausíveis. Foram e continuam sendo péssimas hospedeiras nos aeroportos, com milhares de inquilinos que pensavam em voar e acabam deitando pelos saguões e corredores quando não mais agüentam fazer protestos contra os embasbacados funcionários, que nada sabem porque suas empresas nada dizem. E parece que também nada sabem.

Jobim vai ter de, também, descascar o abacaxi da suspeita de sabotagem no Cindacta IV, de Manaus, que parou os vôos internacionais na madrugada do último sábado. E do Planalto ainda surge a notícia de que o novo ministro da Defesa deverá estar à frente do projeto de transformação da Infraero em empresa de capital aberto, porém sob o controle do governo. Até aqui, foi empresa estatal sob o descontrole do governo.

É tarefa para super-homem!

Voltar ao topo