Empresários do Citigroup acusam Daniel Dantas de fraude

Brasília ? A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Compra de Votos ouviu hoje (18) por cinco horas e meia o depoimento de dois representantes do Citibank no Brasil, Gustavo Marin, presidente da instituição no país, e Sérgio Spinelli Silva Júnior, procurador legal do Citigroup. Eles negaram que as empresas tenham feitos qualquer financiamento para campanhas políticas e explicaram as razões que levaram o Citibank a afastar Daniel Dantas do comando do fundo CVC.

Recentemente os fundos de pensão ganharam na Justiça, junto com o Citibank, o direito de exercer o controle administrativo da Brasil Telecom numa disputa jurídica com o Banco Opportunity. Mesmo sem a maioria das ações da empresa, o banco Opportunity, de propriedade de Daniel Dantas, detinha o controle da Brasil Telecom, operadora de telefonia fixa de parte das regiões Norte, Sul e Centro-Oeste do país. Por acordos firmados na época da privatização da Telebrás, em 1997, o banco comandava o fundo Opportunity Zain Participações. Os acordos permitiam que Dantas controlasse duas partes do fundo Zain: CVC Nacional ? em que os fundos de pensão cediam o controle ao Opportunity ?; e CVC Estrangeiro ? em que a direção foi cedida pelo Citibank.

O presidente do banco, Gustavo Marin, disse que contratos capitaneados por Daniel Dantas foram revistos e descobriu-se a realização de negócios que não interessavam ao Citi como acionista. Segundo Spinelli, o banqueiro foi afastado por justa causa do comando do fundo e está sendo processado numa corte de Nova York. "Uma análise profunda dos contratos e da atuação do banqueiro enquanto gestor do fundo CVC identificou que o banco Opportunity, na qualidade de gestor do Opportunity Zain e do Fundo CVC cometeu violações de contratos, quebra de dever fiduciário, fraude, má conduta profissional e enriquecimento sem causa", disse.

"Chegamos a conclusão que uma série de contratos assinados sempre pelo mesmo gestor, Daniel Dantas, entre o Opportunity e o CVC transferiam interesses importantes do CVC para o Opportunity", disse Spinelli, que é o novo gestor dos fundos.

A suspeita de alguns deputados é de que a gestão de Dantas poderia ter servido para desviar dinheiro para políticos, fazendo parte, assim, do suposto esquema de Marcos Valério conhecido como "mensalão". O relator da CPI, deputado Ibrahim Abi Ackel (PP-MG), disse que "agora podemos descer em profundidade nas contas do fundo de pensão para estabelecermos, por exemplo, quais os contratos de publicidade e possíveis superfaturamentos, visando chegar ao financiamento de campanhas."

Ambos negaram qualquer relação direta do Citibank ou Citigroup com membros do governo. Marin disse que teve em 2003 e 2004 três reuniões com o governo, com Palocci e duas com Dirceu, e que em todas as ocasiões ele teve a mesma resposta: que esse não era um assunto (fundos de pensão) a ser tratado com o governo, porque era um assunto privado.

Marin disse que a política do Citigroup no Brasil "desestimula" financiamento de campanhas políticas. Spinelli disse não ter conhecimento de nenhuma contribuição dessas empresas a partidos políticos.

Antes do início da audiência, o plenário da CPI aprovou a indicação das empresas de auditoria externa que vão realizar perícia contábil nos dados coletados pela comissão. A Ernst Young vai analisar os fundos de pensão, e o consórcio Moore Stephens/ Villas Rodil, vai periciar as movimentações financeiras.

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