Empresário diz que ex-ministro Humberto Costa facilitou esquema

O envolvimento do ex-ministro da Saúde Humberto Costa e de funcionários de seu gabinete no esquema dos sanguessugas foi confirmado em depoimento à Justiça Federal pelo empresário Darci Vedoin, um dos donos da empresa Planam, principal operadora do esquema.

De acordo com Vedoin, o lobista José Caubi Diniz teria confidenciado, na metade de 2003, que haveria um acordo com Humberto Costa e José Airton Cirilo, ex-presidente do PT do Ceará e membro do Diretório Nacional, "para serem liberados R$ 30 milhões" na aquisição de ambulâncias e equipamentos médico-hospitalares.

A verba seria extra-orçamentária e o acerto incluía o pagamento de 15% de propina das licitações executadas. Desse total, R$ 6 milhões seriam para prefeituras e entidades do Ceará, Estado de Cirilo.

Darci contou ainda que o chefe de gabinete de Humberto Costa, Antônio Alves, informou à Planam que seria preciso pagar uma propina para intermediários de Cirilo. O petista queria 5% de comissão para garantir a liberação de verbas federais correspondentes ao preço de cem ambulâncias já entregues pela empresa. Luiz Antônio Vedoin, filho de Darci e braço financeiro da máfia, era responsável pelo pagamento da propina aos intermediários de Cirilo. O dono da Planam teria depositado R$ 867,7 mil nas contas de Diniz e de Raimundo Lacerda Filho, sobrinho do ex-presidente do PT cearense.

O chefe da máfia contou que, no segundo semestre de 2002, ainda no governo FHC, não conseguia receber o pagamento referente às cem ambulâncias, apesar de o dinheiro dos convênios já ter sido empenhado. Ao assumir, no início de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva baixou um decreto proibindo o pagamento de emendas empenhadas no governo anterior.

Vedoin relatou que Benedito Domingos (PP), ex-vice-governador do Distrito Federal, lhe foi apresentado pelo pastor Lourenço, responsável pela campanha da candidata petista Benedita da Silva ao governo do Rio. Em seguida, Domingos levou-o ao gabinete de Humberto Costa pela primeira vez. Disse que se encontrou com próprio ministro, que nesse primeiro encontro teria dito que não pagaria o montante desejado pela Planam. Mas, pouco tempo depois durante uma exposição de suas ambulâncias em Brasília, Diniz entrou em cena. O lobista quis saber se a Planam tinha créditos a receber do Ministério da Saúde e, como a resposta foi positiva informou que poderia resolver o problema.

Com passagem paga pela própria Planam, Diniz foi a Cuiabá e acertou a comissão de 5% sobre os valores a serem liberados. Ele recebia dinheiro em depósitos no Banco do Brasil e pelo menos em um dos 65 documentos que confirmam as transferências na conta dos intermediários existe um cheque emitido pelo próprio filho de Darci, Luiz Antônio Vedoin, no valor de R$ 53,5 mil .

A relação entre Cirilo, Diniz, Lacerda e Darci Vedoin era próxima quando o assunto era liberar dinheiro de emendas. O dono da Planam diz que chegou a tomar o elevador privativo do ministro no dia em que Cirilo teria acertado a liberação das verbas pendentes para as ambulâncias. Mas não participou da suposta conversa entre o ministro e Cirilo.

Voltar ao topo