Água que passarinho não bebe

Festival com degustação reúne 22 marcas de cachaça no Mercado Municipal

Girardello, organizador do 5° Cacharitiba, no Mercado Municipal de Curitiba (Foto: Raquel Tannuri Santana).

Empreender - Tribuna Água que passarinho não bebe, bagaceira, branquinha, pinga. Seja qual for o substantivo, a cachaça ganha cada vez mais mercado no Brasil e neste final de semana é a grande protagonista de um festival no Mercado Municipal de Curitiba, o 5° Cacharitiba, que nesta edição comemora os 500 anos da bebida no Brasil.

Com 16 produtores e 22 marcas em exposição, o evento reúne venda, degustação e cursos. “O produto ainda sofre muito preconceito. A ideia do evento é desmistificar um pouco o consumo”, explica Heric Herz Girardello, idealizador do festival. Proprietário de dois boxes no mercado, Girardello trabalha com cachaça há oito anos.

“Meu pai veio ao mercado tomar um café e saiu daqui com os boxes”, conta. No local já funcionava uma revenda, mas mixada com outros produtos. “Resolvemos focar no negócio e ficar com apenas um produto, no caso, a bebida destilada”, explica. A Vô Milano comercializa 1,2 mil garrafas do produto por mês, vindas de cinco regiões e 18 estados. Também vende produtos, como copos e dosadores.

A cachaça Weber Haus, avaliada a R$ 1,6 mil a garrafa: rótulo banhado a ouro e edição limitada (Foto: Raquel Tannuri Santana).
A cachaça Weber Haus, avaliada a R$ 1,6 mil a garrafa: rótulo banhado a ouro e edição limitada (Foto: Raquel Tannuri Santana).

Entre as marcas comercializadas na loja e no festival está uma edição limitada da Weber Haus, vendida a R$ 1,6 mil a garrafa. A bebida vem em embalagem especial com rótulo folheado a ouro, foi desenvolvida por 20 especialistas e foram envasadas apenas duas mil unidades do produto, todas numeradas. Em dois anos, Girardello já vendeu seis unidades das sete que comprou. Apenas uma está em exposição no festival.

No festival também há mais edições limitadas da bebida, como a cachaça Cenário, da Cachaçaria Remus, de Santa Tereza, no Rio Grande do Sul. Avaliada em R$ 850, está sendo vendida no festival a R$ 690. Foi envazada em 2009 em barris de três madeiras diferentes: carvalho, grapia e anjico. Ao todo, o alambique produziu 2,1 mil unidades. Apenas duas unidades estão à venda no festival.

Cenário, da Cachaçaria Remus, de Santa Tereza, também tem edição limitada e está em "oferta" por R$ 690 (Foto: Raquel Tannuri Santana).
Cenário, da Cachaçaria Remus, de Santa Tereza, também tem edição limitada e está em “oferta” por R$ 690 (Foto: Raquel Tannuri Santana).

Na Remus são produzidas cachaças orgânicas. A empresa é familiar e segundo Ivandro Remus, a região produz destilados há mais de 100 anos. Entre as marcas próprias também está a Malabarista. Todas elas têm rótulos que valorizam artistas locais.

Universidade da Cachaça

A maioria dos expositores levou para o Mercadão destilados orgânicos. É o caso, por exemplo, dos proprietários do Engenho Terra Vermelha, de Assaí, no Paraná. O alambique é de propriedade da família de Marcelo Teixeira Canhoto. Ele conta que em 2009 foi iniciado o processo de desintoxicação do solo, assim como uma rede de proteção da lavoura para evitar a contaminação por agrotóxicos.

Marcelo Teixeira Canhoto, do engenho Terra Vermelha, de Assaí, produz cachaça orgânica (Foto; Raquel Tannuri Santana).
Marcelo Teixeira Canhoto, do engenho Terra Vermelha, de Assaí, produz cachaça orgânica (Foto; Raquel Tannuri Santana).

Feito isso, o segundo passo foi decidir em que produto investir. “Procuramos a Universidade da Cachaça, em Minas Gerais, que nos prestou consultoria”, explica. Um técnico foi enviado ao local e ajudou na estruturação do alambique. “Mesmo assim tivemos que fazer, posteriormente, algumas adequações”, lembra. “O clima mais frio, assim como outros fatores, influiu no gosto do produto”, complementa.

No engenho, tudo foi pensado para não prejudicar a natureza. “Não jogamos fora nem a água das serpentinas”, garante. O bagaço e o vinhoto também são reaproveitados. “Voltam para a terra como matéria orgânica”, garante. Produtos, como garrafas quebradas e rótulos, também são reciclados graças à parceria feita com uma usina local. “Temos toda uma preocupação com o meio ambiente”, assegura.

Nas terras familiares, além da cana de açúcar, também foram plantados mil pés de coco, que atualmente começaram a produzir. “Temos certificado de produção orgânica. E eles são muito exigentes. No local tem nascente de manancial, então temos que ter compromisso com a preservação”, diz. Canhoto afirma que até a engenharia de construção da destilaria foi pensada. “Foi feita em declive, assim toda a água usada vai passando de um lugar para outro, sem uso de bomba”, diz.

O festival

Maioria dos expositores tem produtos orgânicos (Foto: Raquel Tannuri Santana).
Maioria dos expositores tem produtos orgânicos (Foto: Raquel Tannuri Santana).

O festival começou ontem e vai até domingo. Na programação o público poderá, além de comprar e degustar os produtos expostos, fazer alguns cursos. Hoje e amanhã tem concurso de “degustação às cegas”, onde o visitante poderá aprender a tomar o produto e eleger o predileto. De hoje a domingo também poderá aprender receitas e fazer degustação de drinks com a bebida. Amanhã terá aulas-show de culinária, também com degustação no curso “Descoberta Sensorial de Cachaças”, com Aline Bortoletto, das 14 às 17 hrs. Gratuito.