Histórias inspiradoras

Ex-morador de rua dá a volta por cima e vira empreendedor

Edimilson Fernandes na marquise do Mercado Municipal, local em que morou no ano passado até se reerguer (Foto: Raquel Tannuri Santana).

Empreender - Tribuna Ele já foi morador de rua e passou por muitas necessidades. Mas nunca desistiu do sonho de ser empreendedor. Edimilson Fernandes trabalhou durante 25 anos com fibra de vidro, atuando na preparação de carros na Stock Car, na cenografia de espetáculos teatrais e arquiteturas promocionais. Entretanto, em 2015, após sair da empresa na qual trabalhava, ele passou por dificuldades financeiras e acabou se instalando na marquise do Mercado Municipal, no Centro de Curitiba, local em que permaneceu por seis meses.

Ele veio para a capital paranaense em 2009. “A ideia era vir pra cá para ser bem sucedido”, justifica. Veio de olho do polo automotivo que a cidade havia se transformado com a instalação das montadoras de carros. Fazia acessórios em fibra de vidro para caminhões, mas em 2015, com a quebra financeira da empresa em que trabalhava, se viu em maus lençóis. “Morava num quartinho e o dinheiro acabou. Entre estudar e morar preferi estudar”, relata.

Edimilson Fernandes dormiu na marquise, bem em frente à loja Assel, local em que conquistou amigos (Foto: Raquel Tannuri Santana).
Edimilson Fernandes dormiu na marquise, bem em frente à loja Assel, local em que conquistou amigos (Foto: Raquel Tannuri Santana).

Enquanto estava morando na rua, Fernandes ganhou uma bolsa de estudos no Senac para realizar cursos de gastronomia e, com o dinheiro que recebia com os trabalhos na área, conseguiu se reerguer. “Aluguei uma casinha para mim e saí da rua”, lembra. No curso, preferiu omitir sua condição, com medo de perder a bolsa. Era no Senac que tomava banho e almoçava. À noite, jantava graças à solidariedade de grupos que distribuem comida para os sem-teto. “Mas com o passar do tempo as coisas foram melhorando”, diz.

Foi com o dinheiro de um bico aqui e outro ali que ele então desenvolveu o protótipo de um acessório automotivo para ser instalado nos cantos traseiros dos veículos, com a finalidade de melhorar a qualidade do som no carro. “Apesar de tudo, não tinha condições de trabalhar na área, já que não tinha um endereço fixo”, lembra. Foi então que teve uma ideia: levou o protótipo à Intec, mas como não era formalizado, não pode participar do processo seletivo.

Acessórios

A equipe técnica da incubadora entrou no negócio e deu suporte para Fernandes abrir sua empresa, assim como ajudou a formular o plano de negócios para ser apresentado na banca da Intec. Aprovado no processo, hoje o empreendedor já tem seus planos traçados. “Quero desenvolver acessórios personalizados para oferecer ao gosto do cliente. Já estou em contato com lojistas da área automotiva e concessionárias e a receptividade está sendo muito boa”, salienta.

No início do mês, Fernandes assinou o contrato de incubação para se instalar no Instituto de Tecnologia do Paraná. Ele irá incubar sua empresa, a Vuk Personal Parts, na Incubadora Tecnológica do Tecpar (Intec).

O diretor-presidente do Tecpar, Júlio C. Felix, destaca a superação pessoal de Fernandes e ressalta a diversidade de negócios que são apoiados pela incubadora. “Tem uma canção do Raul Seixas, ‘Tente Outra Vez’, que fala sobre ter fé e perseverança, características que um empreendedor deve ter e que Fernandes tem. A entrada dele na incubadora reflete a diversidade das competências da instituição”, avalia.

O gerente dos Parques e Incubadoras Tecnológicos do Tecpar, Gilberto Passos Lima, explica que com o apoio da Intec o empreendedor pode dar escala ao negócio. “Vamos dar suporte na implantação de tecnologias ao seu processo de desenvolvimento, com o uso de scanner e impressora 3D, disponíveis em nosso laboratório de prototipagem. Com isso, ele vai deixar de produzir artesanalmente para ganhar escala com seus produtos”, explica.

Saiba mais sobre a Vuk Personal Parts aqui

Intec

Empreendedores que queiram participar do programa de incubação do Tecpar podem fazer, ao longo do ano, a inscrição para concorrer a uma vaga em uma das duas unidades da Intec, em Curitiba e em Jacarezinho. São ofertadas vagas para a modalidade residente (quando a empresa fica nas dependências da Intec) e para a incubação não residente, quando o empresário não se instala na incubadora, mas conta com o apoio dos especialistas do instituto.

Podem participar do processo de incubação pessoas físicas, como universitários, pesquisadores e empreendedores que tenha um negócio inovador, ou ainda pessoas jurídicas. Ao longo de 27 anos, a Intec já deu suporte tecnológico a mais de 90 negócios. No momento, cinco empresas passam pelo programa de incubação: Beetech/Beenoculus, Werker, i9algo, Invento Engenharia e Vuk Personal Parts.

Conheça a Intec pelo site 

“Eles não incomodam”

Jane de Souza tem observado o crescimento do número de moradores de rua no local (Foto: Raquel Tannuri Santana).
Jane de Souza tem observado o crescimento do número de moradores de rua no local (Foto: Raquel Tannuri Santana).

Jane de Souza trabalha na Loja Assel há 18 anos. E neste tempo todo convive com os moradores de rua da região. “Todos os dias vou embora triste e feliz ao mesmo tempo. Triste pela situação que vejo e feliz por estar voltando para uma casa confortável”, justifica.

Calcula-se que pelo menos 30 pessoas vivem em situação de rua no local. Jane observa que o número vem aumentando nos últimos anos. “Acho que é a situação do país”, avalia.

Todos os dias, ao fechar a loja ela vê um batalhão se acomodar na marquise da loja. “Eles são educados e não sujam nada. Ao contrário, sempre dizem que estão cuidando da loja pra gente. Não incomodam”.

Para ela, o caso de Fernandes é atípico. “Não é todo mundo que tem essa força de vontade. Ele sempre foi educado, não arrumava encrenca. Dava para ver que era diferente”, observa.